16 de dez. de 2010

Fogo fátuo
















Fogo Fátuo¹

Ao andarilho solitário de lugares sombrios
Trago vida, esperança e caminho
Livrando-o naquela noite do frio
Tiro de sua alma fino espinho

Meu brilho a princípio lhe induz litígio
Mas sob luvas velhas e um capuz translúcido
Desapareço sem deixar vestígio
Assim o viajante duvida se está lúcido

E encontra paz, finalmente, na loucura
Sem saber que sou apenas fissura
Fogo de palha, frágil, finito
Alimento parco para seu ego faminto



1- Inflamação espontânea do gás resultante da decomposição de seres vivos. Ver: De onde surgem os fantasmas.

28 de out. de 2010

A Culpa é da Medicina

Disse-me ele certa vez, quando falávamos a propósito das chamadas crueldades da Idade Média:
- Tais horrores na verdade não existiram. Um homem da Idade Média condenaria totalmente o nosso estido de vida atual como algo muito mais cruel, terrível e bárbaro. Cada época, cada cultura, cada costume e tradição tem seu próprio estilo, têm sua delicadeza e sua severidade, suas belezas e crueldades, aceitam certos sofrimentos como naturais, sofrem pacientemente certas desgraças. O verdadeiro sofrimento, o verdadeiro inferno da vida humana reside ali onde se chocam duas culturas ou duas religiões. Um homem da Antiguidade, que tivesse que viver na Idade Média, haveria de sentir-se tão afogado quando um selvagem se sentiria em nossa civilização. Há momentos em que toda uma geração cai entre dois estilos de vida, e toda evidência, toda moral, toda salvação e inocência ficam perdidas para ela. Naturalmente, isto não atinge a todos da mesma maneira.

Bem que eu queria, mas não escrevi o texto acima. Mas achei brilhante, exato e aplicável a situações demais para não compartilhar. O título fui eu quem pus. A culpa é da medicina pois foi ela que nos aumentou a expectativa de vida, fazendo com que culturas diferentes convivam na mesma sociedade.

Reverencia:
HESSE, Herman. O Lobo da Estepe. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 [1927], p. 32.

11 de out. de 2010

Hoje

Hoje não vou falar de amor
Nem cantar minha dor

Não conversarei com as flores
Tampouco mandarei nas cores

Não estou com vontade de tentar ser alguém
Nem desejo matar ninguém

Nada no mundo vai me tirar do lugar

Hoje.


OBS: Texto de 2002.Achei-o arrumando o armário hoje...

27 de set. de 2010

Ironia

Sofia chegou em casa com aquele sorriso irônico no rosto, cheio de malícia. Seu sexto sentido de pai sabia que dali viria uma adolescencia.

- Pai, hoje a gente estudou em História que o Tiririca tem o recorde de votos para Deputado no Brasil. Não é aquele que você tem disco?

(silêncio constrangedor)

- Pois é, minha filha. Foi. Mas eu não votei nele não.
- Eu te deserdaria se você tivesse votado nele, disse Sofia, divertindo-se com a provocação

Ele pensou em explicar que nem se quisesse poderia votar nele, pois ele fora candidato por São Paulo. Preferiu uma rota alternativa:

- A situação política na época era muito diferente de hoje. Havia um descontentamento geral com os políticos. Muita gente achou que votar nele era uma forma de protesto.
- Se o descontentamento era geral, por que as pessoas não se mobilizavam e se candidatavam? Votar num palhaço para protestar, que pessoas burras!

Titubeou. Não conseguia colocar em palavras o imobilismo e o desamimo que dominavam aqueles tempos de sua juventude.

- Você esta mudando de assunto, protestou ela. Eu queria saber o que faz o disco dele na nossa prateleira, bem depois do The Doors e do Titas?
- Eu pedi para sua avó comprar este disco quando criança, lá para uns 8 anos. Era moda na época, anos 1990. O disco ficou na minha coleção, hoje até vale uma grana como raridade bizarra. Nunca mais escutei, diferente de você que tem até hoje músicas da Isabela Belinha no seu iAll.

(silêncio constrangedor)

- Ao menos eu não tive que aturar o Tiririca fazendo discurso em Brasília. Ele não era analfabeto?
- Acredite, minha filha, dos males o menor.

14 de set. de 2010

O erro de Eva

Você inventaria a internet
se soubesse que ela multiplicaria a pornografia infantil?

Você inventaria computadores
se soubesse que eles guiariam mísseis?

Você inventaria a energia nuclear
se Hiroshima e Nagasaki fosse inevitável?

Você inventaria o adubo
se soubesse que o desperdício de comida mataria milhares por inanição?

Você inventaria a eletricidade
sabendo que ela seria o método mais eficiente de tortura?

Você inventaria as caravelas
Se pudesse prever o genocídio de Maias, Astecas, Incas e outros povos sem nome?

Você inventaria a democracia
sabendo o que seria o Brasil do século XXI?

Você inventaria a forja
se soubesse que espadas seriam preferíveis a arados?

Você inventaria a roda
se soubesse que os carros matariam mais do que guerras?

Eu não.

Ignorância é uma benção.

31 de ago. de 2010

Saudade

Eu estava com saudade desse lugar.

Saudade de ser livre. De escrever o que me desse na telha.

Saudade das palavras soltas, que não desejam aprovação, que não desejam convencimento de outrém, que não desejam subversão. Que não desejam ocultar, nem desviar o olhar do essencial.

O bom filho a casa torna; ao lugar que ele mesmo criou.

Aqui é onde posso brincar de Deus, ser pai e filho ao mesmo tempo.

16 de jul. de 2010

No meio (2)

Eu e o Flávio nos inscrevemos no concurso de crônicas da Blooks
Não fomos finalistas, infelizmente. Mas gostaria de compartilhar aqui a crônica que enviamos para lá. Ela já apareceu aqui nO Teatro, mas em dois posts separados (No meio e Direito de resposta). Nós juntamos os dois textos (o segundo foi escrito como continuação do primeiro) e melhoramos algumas partes (ler um texto antigo sem querer tentar melhorar um pouquinho ele é quase impossível)

No Meio

Flávio Vinícius Ferreira de Araújo e Vitor Paiva Pimentel

(...)
- Então você diz porque sim?
- Sim!
- Resumes tudo numa afirmação?
- Não...
- Então negas e
Consideras uma devoção!
- Eu!?
- Meu Deus!
- O quê !?
- Cinismo...
- Não. Abismo. Que se esconde.
- Onde?
- Em frente às favelas, de um povo que reza, e também se confessa.
Que pensa que é gente, mas gente não sente.
Que acha que é, mas só interpreta
o que dizem que Deus quer
mas este mesmo os despreza.
(Pausa)
Me diz isso como algo que se entende
e ainda por cima não se arrepende!?
Você considera tudo sua ciência...
Sua social ciência.
E assim se esquece
dos fatos de antes, da vida de antes,
e acima de tudo, da Divina Providência.
- Não seja sonhador! Dor, dores deveras.
E você me fala das vidas como se fossem primaveras?
- Ah! Quem me dera ser sonhador e não enxergar a dor
Fruto que me dilacera,
E que ao sorrir diz
que não sou apenas esta tão frágil... matéria.
- Inconseqüente!
- Mentes!
- Direito à vida!
- Que viva!
- Adquirida!
- Admitida!
- Mentira!
- Verdade!
- Pedaço!
- Eternidade!
- Efêmera!
- Quimera!
- Que me dilacera se eu não tentar.
Encontrar por meios próprios – seja a social ciência, seja por completa incompetência – a verdadeira mentira.
Que se atira do sétimo andar. Cai. E, para ti*, se esconde, longe do nosso alcance, no céu.
- Porque não tiras o véu? Cegas a ti mesmo por amor a que? O Romântico aqui sou eu...
- Cego-me por medo, confesso. E não me arrependo.
- Cinismo!
- Não, abismo... que se revela. Que me revela. Como apenas mais um do povo.
Povo que talvez reza, talvez calcula, talvez não procura, mas nunca se entrega. Inabalável em sua fé.
- Fé em que?
- Não importa. A fé se basta, intransitiva.
- Divina Providência?
- Ou seja lá em que barco queiras me colocar. Posso colocá-lo em qualquer barco também!
Mas, de um jeito ou de outro, estamos juntos! Estivemos e estaremos! Juntos!
- Para a eternidade...
- Efêmera!
(...)

*Parati é o nome de uma cidade fluminense que tem seu nome em homenagem a um Peixe Branco, seu significado em Tupi (or not Tupi?). É a cidade que cedia a Festa Libertária Internacional.

23 de jun. de 2010

Causa e efeito

Causa e efeito

O Coração é o simbolo do amor. As meninas aprendem logo cedo a cultivá-lo. Margens de cadernos são talhadas de sua representação simplificada. Na web, rapidinho descobriram como desenhá-lo com letras, nada pode impedir de expressar os sentimentos por meio desse simbolo universal S2

Já o Cérebro, coitado, é estigmatizado como frio, calculista, o lado racional. Aquele sujeito malvado, que não tem sentimentos. Os psicopatas são puro cérebro, pessoas sem coração.

Os médicos que me corrijam se eu estiver errado, mas pelos meus parcos conhecimentos de biologia, esta dualidade coração/cérebro é um grande equivoco, e ainda uma tremenda injustiça com o pobre cérebro.

No complexo de reações que é sentir amor, o coração é um mero coadjuvante; ele só bate mais forte porque o cérebro (e normalmente o corpo todo) precisa de mais sangue nesses horas, sendo que quem dispara o coração é a adrenalina, e quem manda as adrenóides produzirem mais adrenalida é? Duh, o cérebro. Aliás, pelo mesmo motivo o coração bate mais rápido quando estamos com medo e com raiva. A diferença dos sentimentos está nos outros hormônios (endorfina, por exemplo) que o cérebro comanda a produção. O coração bater mais forte é um mero detalhe, que aliás ocorre em outras situações. É o cérebro que ama.

Esse senso comum é uma clara confusão de causa por efeito, é tão absurdo quando pensar que o interruptor mudou de posição porque a lampada acendeu.

Tal dualidade, concebida sobre uma falácia evidente, serve apenas para criar uma falsa dicotomia entre razão e emoção, como se estivessem ligados fisicamente a órgãos diferentes do nosso corpo. Não existe razão sem emoção, nem emoção sem razão. Às vezes conseguimos agir mais em função de um ou de outro, mas por motivos totalmente alheios a nossa vontade.

3 de jun. de 2010

Eu vos desafio!

Ou
Regras não são feitas para serem quebradas!

Sim...vos digo que regras, ao contrário do que diz uma frase popular, não são feitas para serem quebradas. Quando inteligente e feitas com real boa vontade, elas têm uma finalidade importante, seja ela social, ética etc. Não, elas não são feitas para serem quebradas, mas sim superadas! Veja, o que vos digo é diferente, as regras têm uma finalidade, porém se elas não server mais a essa finalidade ou conhece-se um outro jeito mais eficaz de se alcançar a finalidade pretendida, sim, devemos ignorá-las! Por que estou dizendo isso? Porque hoje eu vou infringir uma das regras do nosso Blog, mas com a melhor das intenções: a tentativa de gerar reflexões profundas.

Kafka foi um gênio. E, talvez, nesse conto que vos transcrevo está resumida a sua obra e a sua genialidade. Reflitam sobre. E o desafio está aberto, quem chegará mais perto da verdade? Alguém ousa me explicar esse conto?

In Franz Kafka, O processo. São Paulo, Brasiliense, 1995. 6. ed., p. 230-32.

[...] Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo dirige-se a este porteiro e pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se então não pode entrar mais tarde. "É possível", diz o porteiro, "mas agora não". Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta, e o porteiro se posta ao lado, o homem se inclina para olhar o interior através da porta.

Quando nota isso, o porteiro ri e diz: "Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso. E sou apenas o último dos porteiros. De sala para sala, porém, existem porteiros cada um mais poderoso que o outro. Nem mesmo eu posso suportar a visão do terceiro", O homem do campo não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele; agora, no entanto, ao examinar mais de perto o porteiro, com o seu casaco de pele, o grande nariz pontudo e a longa barba tártara, rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a permissão de entrada. O porteiro lhe dá um banquinho e deixa-o sentar-se ao lado da porta. Ali fica sentado dias e anos. Ele faz muitas tentativas para ser admitido, e cansa o porteiro com os seus pedidos. Muitas vezes o porteiro submete o homem a pequenos interrogatórios pergunta-lhe a respeito da sua terra e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que costumam fazer os grandes senhores, e no final repete-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que se havia equipado bem para a viagem, lança mão de tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Este aceita tudo, mas sempre dizendo: "Eu só aceito para você não achar que deixou de fazer alguma coisa". Durante todos esses anos, o homem observa o porteiro quase sem interrupção. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos, amaldiçoa em voz alta o acaso infeliz; mais tarde, quando envelhece, apenas resmunga consigo mesmo. Torna-se infantil, e uma vez que, por estudar o porteiro anos a fio, ficou conhecendo até as pulgas da sua gola de pele, pede a estas que o ajudem a fazê-lo mudar de opinião. Finalmente, sua vista enfraquece e ele não sabe se de fato está escurecendo em volta ou se apenas os olhos o enganam. Contudo, agora reconhece no escuro um brilho que irrompe inextinguível da porta da lei. Mas já não tem mais muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um aceno para que se aproxime, pois não pode mais endireitar o corpo enrijecido. O porteiro precisa curvar-se profundamente até ele, já que a diferença de altura mudou muito em detrimento do homem. "O que é que você ainda quer saber?", pergunta o porteiro, "você é insaciável." "Todos aspiram à lei" diz o homem, "como se explica que, em tantos anos, ninguém além de mim pediu para entrar?" O porteiro percebe que o homem já está no fim, e para ainda alcançar sua audição em declínio, ele berra: "Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a".

30 de mai. de 2010

Blá blá blá e reflexão

Senhoras e senhores, essa semana eu tinha em mente colocar uma poesia ou um texto sobre o cinema. Infelizmente, o meu processo criativo é muito curioso, vocês se lembram dos 90% de transpiração e 10% de inspiração? Bullshit! Eu não funciono assim, apesar de achar que a transpiração é importante, eu preciso de inspiração. E o azar é que por motivo de forças maiores os momentos em que tenho maior vontade de escrever eu não estou diante de um computador e também a atmosfera não anda muito propícia já que dois computadores aqui de casa estão fora de uso e só posso usar o do quarto dos meus pais. Gosto de escrever sozinho e com total concentração, além de precisar estar em um estado de catarse total com o texto, em que eu realmente o sinta nascendo. Não, o ambiente não me favorece, logo não tive a coragem de escrever os textos que gostaria de publicar. Porém, vos deixo aqui uma curiosa reflexão que tive há alguns dias:

"A publicidade está para a arte assim como o stand-up comedy está para o teatro e Hollywood está para o cinema."

Não, não tenho pretensão de me explicar. Está tudo escrito acima.

17 de mai. de 2010

Expectativas

Acho impossível não criar expectativas. Cinema é expectativa.
As vezes somos surpreendidos; as vezes não.

Problematico é quando esperamos ser surpreendidos.

Desafiei-me um dia a não criar expectativas. Entrei de sopetão pra ver um filme do qual nunca tinha ouvido falar, mas em cujo cartaz achei, não sabia bem o que, algo de interessante.

Depois me recriminei, pois é claro que eu havia criado expectativas quanto ao cartaz... não valeu, obviamente.

Fiquei tentando outras maneiras de não criar expectativas. Fiz o seguinte teste: decidi  ver um filme, e escolhi o local e o horário por conveniência, sem saber o que estaria passado. Chegando lá eu escolheria o filme. Mas é claro que o critério de escolha do filme (no meu caso pelo genero e pelo título) também é uma expectativa. Quando leio um título e comparo com os outros, também envolve expectativas. E a escolha do lugar também influência; eu sei, por experiência, que no Estação passa um determinado tipo de filme, no Arteplex outro, no Severiano Ribeiro outro.

Comprometer-se por duas horas com alguma coisa sempre envolve esperarmos sair dessas duas horas diferentes, seja mais leves, com uma boa comédia, seja com alguma reflexão interessante etc.

Talvez não seja só no cinema...

A questão central, entretanto, é como saber o que esperamos? Se soubessemos, não seria mais uma expectativa. Nunca haveria frustração. Nem agradáveis surpresas.

2 de mai. de 2010

As palavras não ditas Ou As crônicas sobre a solidão

É estranho! Todas as noite ele sai com a galera para conversar e volta com um imenso vazio no peito. Como se as conversas sugassem a sua força vital e retirassem dele parte do ser que era. Se eram conversas animadas? Sim, eram conversas bastante animadas, o que nos faz concluir que era a ele que faltava ânimo. Obviamente e disfarçadamente já não apreciava tanto a companhia dos amigos, apesar de ter por eles uma enorme estima. Sabia então que estava às portas de mais uma crise em que aflora a sua essência paradoxal, mais uma vez seria forçado a lutar uma batalha em que qualquer que seja o resultado ele perderia. Se sentia apenas triste e sozinho, a sua solidão por mais clichê que seja era extremamente acompanhada, a solidão era de dentro para fora e não de fora para dentro como a maioria das solidões. 

Na verdade seus encontros sociais estavam virando quase uma droga, viciante, não sabia ao certo se queria cortar e até eram bons enquanto ainda estava mergulhado neles, porém o efeito posterior era devastador para a sua alma. As conversas lhe pareciam divertidas, porém as conversas divertidas são repletas de lacunas, e essas lacunas pareciam estar tomando corpo. Queria dizer o mundo, gritar coisas importantes, falar sobre arte, literatura, ontologia, filosofia, mesmo sabendo que essas duas são praticamente a mesma coisa, mas não sabia como, ele infelizmente não sabe como começar uma conversa inteligente, ele mal sabe como começar uma conversa tola com uma garota na boate. E isso o entristecia, sabia ele que o seu pior adversário era si próprio: a sua eterna insatisfação diante da vida, a sua sensação constante de derrota, a sua limitação em se expressar...

Sabia que a inteligência e a cultura eram caminhos de solidão, só que ele não era tão inteligente, nem tão culto, então porque tão só? Sabia que mais dias, menos dias iria se deparar com a sua solidão, não a morte não é nem de longe o pior inimigo de um homem, pelo menos não deste. E inconsolavelmente nem para ela ele saberia o que dizer. O que converso eu com a minha solidão? Poderíamos sentar, chamar uns amigos e jogar sueca.Mas isso seria Kafkiano demais e ele prefere o realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez.
Sim, as estirpes condenadas a cem anos de solidão jamais terão uma outra chance sobre a face da terra... Queria ele viver cem anos sobre a face da terra, aprenderia mais, teria mais tempo para ir a museus, shows, teatros, mas ele tem a impressão que ele faz isso sozinho demais. Na verdade ele não é tão só, tem uma alma profunda demais, se quisesse poderia repartir a alma em pedacinhos e criar várias personalidades que lhe entretessem. Porém, isso se chama esquizofrenia e ele já tem muitos problemas.

Ele sente uma enorme pressão para ser alguém na vida. Ele já inventou nome, posto, camada social, profissão, personalidade e tudo o mais, apenas não sabe como fazer para chegar a ser esta pessoa. Na verdade, ele sente um intenso medo de que esta pessoa já exista, pois ele também não sabe ao certo o que dizer para tal pessoa.

Não e sim. Ele sabe que tem que dizer mais, muito mais do que ele expressa numa noite boêmia nas ruas do Rio de Janeiro. Só que as palavras são feitas do mesmo material etéreo que são feitos os pensamentos, e em seu egoísmo ele guarda as palavras para si mesmo. Talvez, se por um momento conseguisse criar uma fenda em seu casulo social, aí sim ele dissesse as palavras não ditas, aquelas que ficam nas entrelinhas, no interstício, no intrínseco de seu próprio ser, ele talvez fosse feliz ou talvez não fosse compreendido e tudo soasse apenas como uma epifania ou um momento de loucura...Então, é por isso que ele escreve...

17 de abr. de 2010

Não tenho personalidade

Não tenho personalidade. Sou uma mistura de todas as experiências que já tive. De cada pessoa absorvo um trejeito, uma gíria, um pensamento.

Não sou insubstituível nem único. Sou um fabricante de máscaras, trabalho com fragmentos de minhas presas. Somente eu as uso. Significo para você o que eu quiser.

Não sou sempre o mesmo. Com cada indivíduo que converso travisto-me de filosofia diferente, adapto-me às circunstâncias. Sou um camaleão. Não possuo identidade própria. Adquiro facilmente a coloração do ambiente.

Ao contrário de você, todos os meus movimentos são estudados e pensados. Sim, eu me estudo a todo o momento, nos mínimos detalhes. Meu nascimento é um roubo. Os gregos até hoje procuram as máscaras que usavam para encenar suas peças. Conheço e compreendo como poucos a minha história, sei onde e quando aprendi sobre cada assunto.

Prezo pela verdade, mas sou um mentiroso. Não por desconhecer a verdade, ou dela duvidar. Tampouco vanglorio a mentira terapêutica. Pelo contrário, conheço tão bem a verdade que a acho desinteressante. Prefiro mentir para poder me enveredar pelas tuas entranhas e sugar o teu sangue. Sou sanguessuga. Um sanguessuga de idéias. Já imaginou o poder de um camaleão sanguessuga? Sim, este sou eu.

Minha busca é pelo que não sou capaz de traduzir. Portanto, não se preocupe, não lhe faço mal algum. A finalidade de minha existência depende da sua, sou daquele tipo de parasita que morre junto com seu hospedeiro.

Você já me conhece há muito tempo, mas nunca nos apresentamos. Muito prazer, me chamam Palavra. Seja bem vindo a minha morada, O Teatro.

8 de abr. de 2010

Aniversário: 4 anos

É com muito orgulho que hoje completamos nosso quarto ano de blog.

Viver é o que acontece enquanto fazemos planos: da nossa idéia inicial, um espaço para que amigos se mantivessem em contato e lessem os textos uns dos outros, talvez não tenha sobrado muito. Vários passaram por aqui, mas somente eu e o Flávio permanecemos. Houve momentos de baixa, é verdade. Mas estamos aqui.

Para mim, escrever não é simples. Sou apaixonado pelo processo, apesar de ele ser doloroso. Cada um é o maior crítico de si, e muitas vezes o motivo que nos leva à escrita não é digno do papel. Para romper o silêncio, é preciso antes superá-lo.

Quatro anos depois, meu único incomodo com o formato blog é a sua a temporalidade. Os textos aqui dO Teatro tem uma intenção de serem eternos, não meros comentários de conjuntura.

Por isso, escolhi três textos bem antigos para indicar-lhes, caríssimos leitores:

Mariana, nossa sonhadora, nosso Limão Lilás foi co-fundadora dO Teatro; mas depois a vida a levou por outros caminhos; amamos muito ela, e esse texto é para mim arrebatador, volta e meia gosto de relê-lo:
Era um nó

Os bons momentos do Flávio são tantos, que confesso quase um assassino por tentar escolher. Mas na verdade tenho um veio psicopata, e escolho:
Poema a uma bela

Escolher o melhor de seus textos é como perguntar a um pai qual o filho preferido dele. Cada filho tem um gênero, e cada um é o preferido desse gênero. Meu critério aqui é histórico, escolhi o meu texto do gênero que me iniciou na literatura, a crônica:
Conto do ônibus

Por acaso, todos os textos foram publicados em 2006. Aqueles que acompanham o blog, não importa desde quando, por favor sintam-se convidados a lembrar de algum texto em particular que lhes tenha marcado de algum modo.

Um grande abraço e muito obrigado!
Vitor

4 de abr. de 2010

Infestação
Ou
A vida das baratas
Ou
Se eles querem metafísica, que morram!

Nada no mundo tem amor maior a vida do que a barata. Só isso pode justificar a sua não aniquilação total perante à humanidade. A barata é para muitos um ser nojento, vil e inferior. Não minto, por muito tempo também pensei assim, só agora noto suas virtudes.

A barata é um ser engraçado, as pessoas acham ela desprezível ou são indiferentes. Nunca vi alguém defendendo-a, tipo uma ONG de salvação das baratas ou de seu habitat natural, no qual as pessoas cismam de jogar lixo ( e o mais engraçado de tudo é que ela até gosta). A barata está aqui antes de tudo para viver da nossa putrefação e zombar da nossa baixeza, mas, ela nem sabe disso. A biologia deveria ter um trato todo especial com esse animal, deveria existir uma categoria especial para ela, assim como para a sua relação com a raça humana. A barata não é um inseto, é uma zoação, uma sacanagem, um escárnio, ou seja lá como você queira chamá-la. E a sua relação com o ser humano deveria ser também classificada de forma especial, pois em termos ambientais ela não parece fazer a menor diferença, ela não come ninguém, não é comida por ninguém, logo não mudará nenhuma cadeia alimentar que nos afete, então em termos biológicos, a sua extinção nos é indiferente, assim como o contrário também é verdadeiro. O seu grande pecado é nos trazer de volta o que queremos esconder, nossos detritos e nossas fraquezas em forma de doença. E por isso, muitos querem exterminá-la, até agora sem sucesso...

É de conhecimento geral que a barata seria o único animal que resistiria à guerra atômica, mas o que mais me espanta nisso tudo é que ela não dá a mínima para isso. A barata, diferente de vários outros animais, não dá a mínima para o ser humano e para o que ele faz. Alguns dizem que ela nos teme, mentira, se temia, já perdeu o medo há muito tempo.

A barata em certos casos é quase divina. Ela é o exemplo de que o todo está na sua menor parte, a barata é um ente abstrato muito além do indivíduo, pois sabemos que onde tem uma barata, existem muitas outras.

Se Nietzsche tivesse olhado para ela teria notado um ser no auge da potência de vida. A barata não visa atingir nenhuma metafísica, não mata a sua igual por nenhuma ideologia e acima de tudo corre feito louca, por quê? Porque ama a vida!

A barata não imagina o que alcançará depois de morta. Não, ela se contenta com um pouco de açúcar e depois volta para a sua toca tranquilamente para aguardar a hora em que precisará de mais comida. Ela não reza para nenhum Deus do qual não está certo que existe, nem faz pouco caso de seu corpo, ela apenas obedece ao seu instinto de viver, amando plenamente cada minuto de sua vida sem ficar, distante, sonhando com outras maneiras de viver.

A barata ri de nós que vivemos aflitos atrás de amor, amigos, aprovação familiar... Tudo isso, em sua metafísica de barata é besteira. Ela sabe que é parte de algo bem maior e em momento nenhum se sente sozinha. A barata gargalha do fato de vivermos correndo atrás de dinheiro. Ela só corre atrás de comida e da salvação de sua vida, o resto para ela é bobagem.

A barata sabe que nossas ideias, nós mesmos destruímos. Que nossos textos, o tempo corrói. E que a filosofia e a poesia brevemente serão apenas sussurros de um tempo vão. A barata estava lá quando o primeiro símio ousou agarrar um objeto com o polegar opositor e sabe que estará lá quando o apocalipse (celeste ou humano) chegar e a espécie humana não pairar mais sobre a terra. Nesse dia a barata, ignóbil a tudo, continuará correndo livremente pela sua vida até o momento em que as paralelas se cruzarem e as estrelas virarem pó...

16 de mar. de 2010

80 anos

Uma semana atrás, presenciei uma cena que gostaria de compartilhar.

Era aniversário dela. 80 anos. Ele já passava dos 88.

- [...] Ela é o pilar de toda a família que com muito orgulho construimos juntos e reunimos aqui hoje em parte: filhos, netos bisnetos, genros, noras e amigos. E por tudo, só tenho a agradecer. [...]

Passou o microfone a ela, que, emocionada, não conseguiu nem precisou dizer mais nada além de:
- Hoje, completando 80 anos, posso dizer que casei com o amor da minha vida.

12 de mar. de 2010

Poema oitocentos e oitenta mil e setecentos e vinte e sete

Entre putas e evangélicas,
Urubus e aspirinas,
Entre a calmaria e a sóciopatia
O desejo e a sina
Nasce
Uma flor
Linda
Na linha
Do horizonte,
Daninha.
Nasce
E
Logo
Cicatriza
Desfazendo-se no vento
feito...
Brisa
Nasce e logo
É dividida
Até a morte,
Feito...
Vida.
Linda,
Provocante
Com espinhos que sangram
O teu...
Semblante.
Finda,
A rosa em seu
Momento
Com nuances que atravessam
Todo
o
Tempo.

26 de fev. de 2010

Pensamento filosófico da semana

ou

Simulacro, simulações e similares

"O suquinho Ades é a maior prova de que a sociedade atual está mergulhada profundamente num simulacro de realidade."
(Flávio Vinícius)

Pensem sobre isso...

19 de fev. de 2010

Ensaio IV

Ensaio
Ensaio II
Ensaio III
Ensaio IV

Ensaiara seu melhor sorriso por quase meia hora na frente do espelho. Tinha que parecer feliz pelos seus melhores amigos.

Até que acostumara-se a ideia de vê-los juntos. No início, de fato, foi muito difícil. Amava-o. Ou ao menos achava que o amava. Mas o amor deles era tão perfeito e bonito, que encontrara paz, após alguns meses, dizendo para si mesma que não o amava tanto quanto ela. Pareciam um daqueles raros casais que começavam a namorar na adolescência e envelhecem juntos.

Considerava-se quase adulta por conseguir pensar assim.

Seu pai, que também era sua mãe e gostava de rimas, lhe aconselhava: ''Sofia, acalma tua alma, o amor é nesse leva e trás. Ele sabe o que faz. Sei que vais descobrir, mais cedo ou mais tarde, o teu rapaz.''

Mas ela permanecia inquieta. Talvez por não saber o quão mais cedo ou tarde ele viria. Talvez fosse o retumbante vazio que carregava consigo para todos os lados.

Na verdade, achava ser o amor de seus melhores amigos o único verdadeiro que veria na vida real, fora dos filmes e dos textos literários. Todos os outros casais lhe pareciam vazios.

Meses atrás, naquele último carnaval, sua conclusão fora reforçada. Saia às ruas, e todos desejavam os prazeres de sua carne, afinal, era a festa da carne. Cedia aleatoriamente. Mas a cada beijo que permitia lhe roubarem, parecia perder mais um pequeno pedaço de sua alma. A cada vez sentia-se mais sozinha, mais indivíduo, e o vazio crescia dentro dela.

Parecia que nunca mais amaria alguém.

Era nesse momento que se considerava ainda adolescente, ou melhor, criança. Seriam todos os adultos assim, vazios?

4 de fev. de 2010

Sauna popular

Sauna Popular: R$ 2,80
Alguém achou mesmo que ia dar certo?


[Foto tirada do meu celular em 3/2/2010, às 21:10, na estação Estácio]

Depois do piscinão de Ramos, da farmácia popular, do restaurante popular, o governo do Estado do Rio de Janeiro (somando cagadas), em parceria com a Metro Rio, lança a nova sensação do verão carioca: a sauna popular. O novo serviço, inaugurado com a presença da candidata Dilma está em funcionamento desde 23/12 do ano passado, e compete com o sistema de aquecimento central da cidade como hot point para turistas.

Nem com muito bom humor para aguentar.

Venho sofrendo todos os dias com os inconvenientes do novo sistema do metrô, talvez não tanto quando as pessoas que usam diariamente a linha dois. Saber que o novo sistema traria o caos é uma matemática de 4ª série (ou melhor, do 5º ano).

Para os não cariocas (é que nós cariocas temos a mania de pensar que somos o centro do mundo... bem... de fato somos, mas isso é outra história), devo explicar o que se passa. No Rio tem duas linhas de metro: a linha um liga a zona sul (área rica, copacabana) ao centro; e a linha 2 liga a zona norte (parte da área pobre) ao centro. Antigamente, as linhas se conectavam na estação do Estácio, que apesar de ser considerado um bairro da região centro, é relativamente longe das áreas realmente importantes. As pessoas (pobres) da linha dois tinham que trocar para a linha 1 nesta estação.

Agora não mais! Olha que fantástico: com as obras, a linha dois entra direto na linha um, sem ter que trocar de trem. Qual a consequencia disso? Alternam-se os trens, ora passa o da linha um, ora passa o da linha dois.

Isso não vai aumentar o intervalo entre os três? Óbvio ululante! Para fazer essa gambiarra de uma linha entrar na outra (que até existe em metrôs de países civilizados, como o de Paris), o projeto era reduzir o intervalo de 4 min para 2,5 min.

Mas pera lá... se na parte do centro vai ter trem a cada 2,5 min, nas partes das linhas 1 e 2 que não estão conectadas, o intervalo entre os três será de 5 min. Bingo! Pensa só: a linha dois já era entupida com trens a cada quatro minutos, agora que passa um trem a cada 5, tem gente saindo pelo ladrão.

Se fosse só isso, ok. Mas o prometido não tem funcionado; o intervalo entre cada composição é bem maior do que o planejado, porque eles não sabem operar isso de trens vindo de lugares diferentes entrarem na mesma linha.

Com todos os problemas causados pela novíssima e burra integração direta entre as linhas, na área do centro, a Metro Rio esqueceu-se de manter seus trens funcionando decentemente. Resultado: o ar condicionado volta e meia está com defeito. E para fazer estas obras estapafúrdias, o governo do estado ainda concedeu mais 20 anos para a empresa gerir o metrô. Ou melhor, criou o serviço de sauna popular, para fechar com chave de ouro o governo Cabral.

21 de jan. de 2010

Sobre jardins e borboletas

Sobre jardins e borboletas

Dizem que não se deve caçar borboletas, basta cultivar o próprio jardim que elas aparecem.

Cândido, um dos meu personagens preferidos da literatura, depois de todas as suas viagens azaradas sempre buscando ver o lado bom de tudo, aprendeu que o melhor mesmo é cultivar o próprio jardim.

Conhecimentos não muito avançados de biologia dizem que borboletas são metamorfose de lagartas. As borboletas depositam os ovos de lagartas, que crescem, formam casulo e depois se transformam em borboletas novamente.

Lagartas são parasitas de vegetais verdes. Vi isso no jardim que meu pai cultiva lá em casa: lagartas devorando a couve que plantamos e cuidamos com todo carinho e atenção. Não importa o tipo de folha, as lagartas devoram!

Bom, se é para cultivar o jardim, melhor não atrair borboletas.

Mas de que vale um jardim sem borboletas?

7 de jan. de 2010

Semiótica do descaso meu

Consternada, admito minha incapacidade reflexiva.
Admito quão cansativa a tentativa da mesma pode ser.

Reconheço a bipolaridade de meus pensamentos, incluindo sua inutilidade.
Pude perceber, contando com a dormência de minha insanidade, que as noites ociosas são de semelhança abissal. Dou uma piscadela para a escuridão, dirigindo-me aos pensamentos que fugiram e, pairando sem objetivo ou âmbito, criaram um pesado redemoinho sobre mim.
O denso negrume funciona como um sudário frágil, questionável, para meu corpo. Assim como um fertilizante vital para minha indecisão.
Posso dizer que ser constante faz parte de mim. Sim, ser inconstante também. Não desejo vida longa. Posso fugir de meu presente no futuro.

Escrevo sem interlocutor, não me interessa seu discernimento.
Arisco-me arriscando o prosaico.

Meu desdém é o alívio de alguns, apenas descaso para outros.
Sinto-me confortável em rotinas caseiras, perfumes conhecidos, rostos amados, cores neutras, vícios prestativos. Timidez não me incomoda, apenas auxilia minha ironia. Não sou como aparento. Não almejo felicidade eterna. Objetos insignificantes são demasiado importantes para mim.
Amigos mastigam minhas obsessões, engolem minha personalidade forte e cospem o que há de melhor em mim. Comparo-me ao azul-celeste que me observa. Afinal, estou mais distante do que julgam, aparentemente preenchendo um espaço maior que imaginam.

Meus ressentimentos são meticulosamente camuflados.
Não sou hipócrita o bastante.

Não tenho medo de cerrar os olhos quando os mesmos degredam uma água salgada, reconfortando-os pelo vazio rapidamente preenchido que provocam.
Prefiro imaginar tramas utópicas com o incógnito a fortificar ligações com o íntimo.

Posso ser quem você pensa que conhece e acredita que não.
Alguém que procura no ócio algo para fazer.

Tudo que vejo é uma simples efígie, um esboço de traços leves e delicados, vestígios do desconhecido que luto para desvendar. Iludo-me, forçando meu senso a obedecer ordens pouco comuns e injustamente ineficazes. Sou capaz de escolher um caminho que nunca vi, mas que conheço perfeitamente. Caminho que me conduz a um labirinto espiral e irrevogavelmente incerto.
Resta-me perguntar se sou apta para indagar meus passos, já que meus calos ardem acompanhando uma pulsação cálida, que me percorre por inteira.

É apenas mais uma pergunta cuja pergunta não sei.
Posso conviver com isso, apenas ignore as palavras que escrevi.


Mylana Dandara Pereira Gama