20 de dez. de 2006

Recordações ou Ilusões

Ai dessa rosa que jaz no solo...
Porque andas assim tão sozinha?
Fora enterrada no chão
Por mãos iguais à minha?
Impossibilitada de voar ao vento
E do vento serdes companhia.

Dançando... parada...
Ao sabor rítmico do ar
Ignorante, irresponsável...
Me lembras em face...
Alguma pessoa amada
Que eu já nem quero lembrar...

Para!
Porque pareces chorar?
Se choro se faz com lágrimas
E lágrimas
Já não há.
Dança
Já não há.
Vento
Já não há.
E agora?
O que é que balança tuas pétalas?
Que mais parecem o velho vestido
Vermelho voando ao vento!
Mas, vento...
Já não há!
E o que há?
Somente essa amargura
Que não é só sua
Nem minha
Nem de alguém
É só do mundo
E mais ninguém...

30 de nov. de 2006

Conto do ônibus

... o bonequinho ficou verde: já posso atravessar a rua. Ainda há carros se movendo em direção à faixa de pedestre. Não se tem certeza se eles respeitarão o sinal. Então, não se atravessa a rua por causa do sinal de pedestres, mas somente se os carros já pararam. Assim funciona o jogo de sinais.

Pois bem. Esperei os carros todos pararem e atravessei a rua.

O fone de ouvido me deixava cego diante da explosão de sons. Criam-se dois ambientes paralelos na minha mente: o do meu destino, o ponto de ônibus, e a música que escuto. Por isso apenas vi um moço braquelo, de aparência jovem e meio maltrapilho incomodar o silêncio da minha viagem. Na verdade, nenhuma palavra do que ele disse entrou nos meus ouvidos, tapados pela musica do “radinho” (minha viagem não era silenciosa).

Esqueci de dizer... eu já estava dentro do ônibus nesse momento. Como de hábito, sentado no primeiro acento; aquele em frente ao cobrador. Aquele que tem um vidro meio fosco nos separando. Sento ali porque sou espaçoso, trato minha mochila como mais um passageiro e esse é o ultimo lugar a ser normalmente ocupado pelo ônibus.

Absorto em meu universo de sons, a roleta não parava de girar. Mas já era tarde da noite e não iria ficar realmente muito cheio.

Ainda faltavam muitos lugares a serem ocupados quando uma menina pediu licença para sentar do meu lado. Era bonita. Cabelos longos e pretos. Mascava irritantemente um chiclete. Volta e meia fazia bolas com ele. Os óculos redondos lhe davam uma aparência um pouco clichê; não sei bem definir...

O mais estranho da história é que ainda tinham muitos lugares vagos no ônibus, pensei. Porque raios viera ela sentar logo ao meu lado, me obrigando a por a mochila no colo?

Foi quando eu percebi que aquela boca mastigava de uma forma displicente demais para não ser intencional. Comecei a observá-la do vidro que estava na nossa frente (tentando me concentrar ao máximo na imagem dela e não na cadeira do cobrador que aparecia logo atrás).

Ela me olhava? Parecia que sim. Talvez algum sinal pudesse tornar isso mais evidente. Interessado na situação, resolvi ficar alerta. Tirei os fones do ouvido e passei a viver em apenas uma dimensão (na verdade três). Ela realmente parecia me observar; resolvi fazer o mesmo.

Estourou. A bola de chiclete. Mas como ela pode ser tão displicente? Resolvi virar os olhos para o alto e fazer aquela cara de insatisfeito com a vida. Quando olhei de novo ela parecia imitar a minha cara de insatisfação, em meio ao trabalhoso processo de mastigar a maldita goma. Mas era de uma forma displicente demais: ela estava me imitanto!

Não. Talvez ela realmente esteja tão insatisfeita com a vida quanto eu, e tem o mesmo direito de fazer essa cara. É melhor esperar por outro sinal. Afinal, todos nós hoje somos meio insatisfeitos com a vida, né?

O ônibus deu uma guinada: começou a subir a serra! Passei a olhar a vista. Quantas luzes! É interessante imaginar que em cada luz dessa existe uma vida, com sua infinidade de laços e implicações...

Ela também olhava pela janela. Continuava me imitando. E continuava a mascar aquele maldito chiclete! Esse é o sinal: vou arriscar!!!

... mas ela também tem o direito de admirar a vista lá de cima e imaginar a vida por trás de cada luz daquela. Esse ainda não é o meu sinal.

Chegamos ao topo da serra. Comecei a bocejar: estava com sono e também queria estalar o ouvido. Mas não é que ela também bocejou? Não é possível! Tem que ser pessoal!!!

Na boa... eu estou em transe mental! Todo mundo boceja quando começa a descer uma serra! O que eu queria mesmo era um álibi para puxar papo. Carência é um problema!

Mas e se for verdade? Ai meu deus!! Oh dúvida, ô vergonha. De fato, se eu fosse pensar racionalmente, não tenho nada a perder: to aqui nesse ônibus maldito sem fazer nada mesmo, perdendo meu tempo, meu precioso tempo. Nisso o ônibus já tinha terminado de descer a serra. Quando finalmente tomei coragem de obedecer ao que os sinais me indicavam, ela deu o sinal!

Levantou e puxou a cordinha...

(agora vai dizer que você não estava torcendo por mim?)

O motorista, do alto de sua sabedoria sociológica e lingüística compreendeu mais rápido que eu a situação. Parou o veículo no ponto seguinte. Ela então já caminhara em direção a porta traseira, a saída.

Eu coloquei de volta o a minha quarta dimensão no ouvido e continuei meu caminho rumo: casa. Se fosse um filme, talvez eu descesse do ônibus. Ela bem que poderia ser o amor da minha vida. Ou não. Mas já era tarde, eu estava cansado de um dia estressante e estava doido por um jantar requentadinho!

Como é difícil compreender o jogo de sinais...

Você que aturou a historinha até aqui. Acha que ela aconteceu de verdade? Sim?

Tudo bem. Sempre achamos o “baseado em fatos reais” mais interessante que nossos devaneios... a resposta é não (apesar de alguns elementos, como o ônibus, conversar com as pessoas que sentam ao lado, o espelho do trocador e a travessia da rua fazerem parte do meu cotidiano)

Mas seu eu consegui ilustrar a complexidade do jogo de sinais e das interpretações que damos aos diferentes fatos, de acordo com o que desejamos que a situação seja e não do que ela realmente é; se eu consegui mostrar que às vezes abandonamos oportunidades impares em nome de nossos desejos medíocres e simplórios, ou em nome de medos irracionais; ou se ao menos eu consegui fazer você fugir da própria cabeça e diverti-la com algumas bobagens, minha missão está para lá de cumprida!

14 de nov. de 2006

Balada do poeta amoroso(Ou ignorado)

Ah, Poesia como te amo,
Te amo por demais!
Amo teus enredos
Tua musicalidade
Teus versos magistrais!
Tua métrica perfeita.
Ou
Tua forma assim desfeita
Por poetas que quiseram mais!

Amo tanto tuas rimas
Raras, ricas, preciosas, escondidas!
Nas almas incompreendidas,
De poetas imortais!

Ah, Poesia como te amo,
Te amo porque me satisfaz!
De suas carícias vivo
E sem ti, todas as outras artes
São do Tédio sucursais!

Ah, como te amo!
Amo todos os poetas
Incompreendidos pelo povo,
Barrocos e Surreais!

Amo-te inigualável arte!
Que me inspira a viver em paz!
Pois te versando vou tecendo
Tantos inatingíveis pensamentos,
Que nem o tempo corrompe jamais!

Ah, Poesia que eu amo!
Me ensina o que se faz!
Para viver nesse estranho mundo.
Onde poesias são meros enfeites
Jogadas fora como jornais.

Bem, Poesia que já se vai!
O bom é que para você...
Tanto faz!
Os poetas e seus amores,
Os mistérios da noite, da vida e da morte!
Para você, são todos iguais...
Era um nó
E estava na garganta
Na trança desmanchada
Na corda que te puxava um pouquinho mais
para perto de mim
Fita fina e vermelha
Ramificada, levava cor do rolo ao chão
E contava, num sussurro, algo que se esquecia
Era uma fita cor de sangue
Era uma tinta
Daquelas de textura já grossa com bolotas que davam
um aspecto revolto ao mar
Mas o silêncio das pinceladas da menina
acalmavam a fúria marinha num
misto de genialidade e delicadeza, quase
que uma gentileza aquela pintura
Quanto jornal!
De ontem, de muitos ante-ontens
cobriam algo que o pé escapava
Era um pé menino com a unha do dedão
roxa, culpa do bicão na bola
Pé sujo, pé pronto para correr
Mas se assustou e tropeçou
E, assim, o fogo o atingiu
E no jornal o corpo se escondeu
O corpo que fora de um menino
Era vida
Um karma, uma vitória, uma saída,
um fim, uma esperança, um recomeço,
um reencontro, uma luta.
Um filho, uma resposta
Muitas vidas
Em uma só
Um só

A solidão que nos consome e que como efeito escolhemos nos isolar cada vez mais.
O medo e a culpa, eles nos apressam e assim não questionamos o nó e a angústia que sentimos, não percebemos as belezas simples e reais, não mais nos deixamos compadecer com o sofrimento alheio e assim não nos impulsionamos para procuramos uma solução.
Mas são vidas e mais vidas, muito tempo, não é, companheiro?
Ah, farei amanhã.
Votarei com consciência amanhã.
Direi que te amo amanhã.
Perdoarei o filho amanhã.
Largarei amanhã.
Acordarei amanhã.
Viverei amanhã.
Amanhã.
Um brinde a esse amanhã que nunca chega, a esse fantasma do futuro que pertubamos, figurando nele a solução que evitamos procurar.
Super-herói.
E num ato de pura "ousadia" questionamos: para que procurar a solução?

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Piiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!
- É, acabou. – fala, arrumando a gravata.
- Percebi.
- Você está caidinha ainda, Clarice. Precisa sair, usar uma maquiagem, roupas bonitas que explorem seu corpo e beleza.Vá se divertir. Já falamos sobre isso.
- Mas você me perguntou o que eu estava pensando e eu falei, o que tem haver com saídas e batom?
- Essa bipolaridade sua, isso assusta seus familiares ainda. Você é nova, vá curtir a vida.
- Acho que o fato de eu ser humana assusta eles.
- Clarice, mesmo sendo humana saiba que você é capaz dos feitos dos anjos, é capaz de tudo.
- E nesse tudo não inclui ficar triste às vezes?
- Bom, por hoje é só. Até quarta-feira? Te avisaram que nossa próxima conversa não será na terça?
- Sim.
- Ok. Então... – diz enquanto levanta-se encaminhando ela para a porta azul-... até quarta!
- Um dia, eu te entendo.
- É.
- Tchau, até.- e vai embora.

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"Deixamos para amanhã viver,
deixamos para amanhã viver com dignidade
Talvez a morte nos cai bem
talvez seja essa a solução
para os simbolistas de plantão
para mim, não

fita
tinta
jornal
viola
violeta
vida
vida
Quanto mais me tiram ela, mais dela brota em mim, mais dela fica no meu ser.
Vida e mais vida ..."- rabiscos de Clarice na parede de seu quarto.

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Carpe diem,senhoritas e senhores.


Mariana

22 de out. de 2006

Às vespéras da eleição

Eu podia falar da falta de tempo dos meus companheiros de blog, mas acho que tempo já um assunto bem discutido aqui nesse blog, então decidi aproveitar a deixa para falar dos nossos outros companheiros.
Os lá do planalto central, ou até dos daqui do palácio Guanabara

Falar de política é sempre muito complicado. Há os que gostam e ficam cegos e os que odeiam e... idem! também se fazem de cegos.
Quando se entra para a faculdade um dos primeiros choques é a natureza do movimento estudantil. Mas não é da minha desilusão com ele que resolvi falar. Falei disso só porque lembrei que, ao discutir o tema politica com um parceiro no sujinnho (o querido bar da praia vermelha) cai na besteira de dizer que tenho tendencias para o centro, e que perto deles eu seria de direita. E eles ficam me zuando e/ou olhando de cara feia.
Algum tempo depois mostrei minha insatisfação com o fato (que se repetia), e obtive a seguinte resposta: "Cara... relaxa. É que nem se estivessemos discutindo futebol: eu sou vasco, você, flamengo". Enguli o comentário e não parei para analisar o seu real conteúdo.

Hoje ele me veio a cabeça de novo, num estalo.
O grosso do debate político é mesmo igual à discussão ruim de futebol (porque em ambos os casos, existem discussões produtivas): uma disputa obsessiva de acusações e dados mirabolantes que cansam a inteligência. Ou, o que da no mesmo, um jogo de futebol com torcidas cegas que se recusam a enxergar as faltas duras do próprio time e os méritos do adversário(em alguns casos, inimigo mesmo!)

Eu venho aqui ao meu blog declarar meu voto para presidencia: nulo.

E pode criticar a vontade. Para mim esse debate equivale a assitir vasco e palmeras (eu sou Flamengo, para quem não sabe). Não gosto de nenhum dos dois times, então tanto faz quem ganhe. Se vejo, é para saber qual é a conseqüência disso na tabela do campeonato (ou até por gostar do jogo, apesar de esse motivo no futebol e na politica tupiniquim não seja muito considerável, apesar de estar melhorando).

Sei que há entusiastas de ambas as candidaturas. A galera lá da sala desfila com bandeiras do Alckmin (bandeiras como as que fazem o show que é torcida no maraca!) ou com adesivos de "Lula de novo com a força do povo". Nenhum dos dois me empolga. E me recuso a entregar minhas emoções à uma causa que não acredito. Me recuso a votar no "menos pior"; me recuso a votar por medo oportunista das privatizações; me recuso a votar porque a midia nos mostra a ponta do iceberb de corrupção que é o estado brasileiro; me recuso a votar por falta de opção.

E não me venha falar de voto obrigatório... isso são outros quinhentos!
Aliás, votar nulo é como não votar se o voto não fosse obrigatório, com o diferencial de o assunto partir de uma decisão consciente cara a cara com a urna, e não por preguiça mental ou comodismo (para os entrelinhistas: eu realmente concordo com o voto obrigatório, e pode vir pro debate, que ele é interessante!) Quem prestou a minima atenção no assunto análise combinatória do ensino médio deveria saber que não escolher é uma escolha tão valida quanto qualquer outra. Mesmo que as pesquisas e o TSE considere isso como um voto "não válido". Nesse caso, eu fico com a matemática! O direito infelizmente falha nesse quesito...

Enfim, no âmbito político, seja qual for a vontade da maioria, me curvarei à ela. E pode deixar que quando (re)começar as merdas eu não vou ficar com aquela cara arrogante de que não "votei nesse cara". Não é esse o motivo. O meu fato é: nenhuma dessas opções me empolgam, nem ao menos me agradam.

Essa é só a MINHA opinião. Se você vai votar em alguém, ao menos o faça com gosto, com um sorriso no rosto! E não com aquela cara de aborrecida por acordar cedo no domingo, encarar fila e muito menos com um saquinho de vômito do lado...

9 de set. de 2006

Resolvi aproveitar a deixa da Mari para amor...

Meus poemas não são nenhuma maravilha. Mas eu gosto de escreve-los. Esse por acaso foi o mais trabalhoso que já fiz... demorou muitos dias até ficar do jeito que está(claro que dias não consecutivos).
Alias, queria deixar bem claro o caráter metafórico de todos os personagens! Coloque no lugar deles o que você achar mais interessante...
E leia com carinho porque é longo.
As passagens com termos técnicos de música eu coloquei no final o significado.
Chega de conversa!

A grande dança

I – Valsa de Lug..

Andante con brio, maestoso

Em um lugar sem ar nem gravidade
Duas almas se encontram; identidade!
De braços abertos, de braços dados

Os corações, maestros do silêncio,
Regem a viagem ao infinito

E, a três por quatro valsam num rito
A grande dança, num derradeiro incêndio

E tudo são: dançarinos e músicos
Unidos pela mesma melodia
O sangue pulsa na mesma harmonia.

Trilharemos juntos esse caminho
Seguindo nossa própria consciência.
Eu sei, nunca encontraria sozinho
Fim, nem o sentido da existência...


II – Adágio

Tempo Rubatto

Eis que ao encontro da
nossa alegria, veio o
espírito dissonante

Primeiro acompanhou,
com graves e metais, a
melodia que nos fazia um

Depois, à melodia, fez contraponto e
com todas aquelas fusas, deixou
-me confuso

Ela, fascinada, achou
Mais bela outra melodia:
Concedeu-lhe a contradança

(Minha caneta começou a falhar)

Meu coração agora sozinho bate sem métrica
Num sincopado lento e descompassado
Rallentando tenso
Até Parar
...


III - Quadrilha (de festa Junina)

Alegro assai, com fuoco

Não parou;
Continua a grande dança.
Não é valsa, nem balada,
Mas quadrilha.

Revezam-se os pares,
Atordoados.
Pés, incansáveis, pisam
E são pisados.

Todos se amam e se odeiam,
Num ritmo frenético.
Corações sem dono são
arrastados pela rua.

O amor centrifuga faz a roda girar
(ou será apenas a burrice?)
gira, gira mais rápido, tão rápido
que as mãos, frágeis elos, se soltam

Dão adeus ao nada
Fingindo sorrir.
E a dor desatina,
Sem doer nem ver...

Mesmo assim, nunca,
Nem por um segundo
(quanto vale um segundo?)
Deixaremos de estar

apaixonados pela vida.
e loucos pela morte
abandonados à própria sorte
dançando quadrilha

sem parar!
se parar?...
separar?
sem...
...parar!

Vitor Paiva Pimentel

Con brio ou Con Spirito com vigor, com espírito

Tempo rubatto - literalmente, tempo roubado. A música é executada com pequenas variações de andamento ao longo do fraseado. O intérprete escolhe a extensão da variação de acordo com o efeito desejado.

Fusa - é 1/32 do tempo do compasso, ou seja, normalmente uma nota muito rápida.

Sincope (música) - É uma nota tocada num tempo fraco prolongada a um tempo forte.
(medicina) - Perda súbita dos sentidos, desmaio

rallentando - diminui o andamento. A música se torna gradativamente mais lenta ao longo dessa marca

Assai - muito (ex.: allegro assai - muito rápido)

Con fuoco com fogo (vivo e agressivo)

20 de ago. de 2006

Faz tempo que não escrevo, então peguei esse texto guardado.
Ele é uma crítica.
E outra coisa, não reclame que não tem nada na tevê: assistam "cadernos de cinema ", na TVE, domingo a 00:00 e as reapresentações , sábado, 1:20.

E carpe diem, senhoritas & hermanos.
Mariana

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Diálogos em gaveta aberta - 1




- Como o homem é frio! – disse a meia azul, ex- furada, hoje com um retalho roxo- Usou- me até rasgar meu abdômen para depois colocar esse troço de tom grosseiro pregado na minha barriga! Quanta audácia!
- Ah, isso é pouco ... fui trocada por uma meia nova esportiva. Tem muitos furos anti-chulé. É! Muito prendada, esta, né? Meu 100% algodão não valem nada agora. Nada!
- Eu trouxe tanto conforto para aqueles pés, querida. Lembro-me como se fosse ontem, o dia que ele subiu na empresa, ganhou o cargo de gerente. Disse que eu era sua meia da sorte!!! Eu ... ah, como eu me senti ... ele, por um dia, em sua vida, teve um momento de lucidez! É! Havia, naquele dia, reconhecido o meu valor.
- É assim mesmo ... e quando menos se espera somos trocadas ... O que será de nós? A minha vida toda eu me dediquei a esses pés, sujos, mas cuide e com tanto gosto. Noites mal dormidas, esquecidas, no cesto de roupa suja.
- Mas cheias de esperança, né? Esperando por eles, sabendo que no final daquele dia e daquela orgia eles se lembrariam de nossos corpos, tecidos, esquecidos.

E de repente, o retalho roxo respirou e retrucou para a meia azul:
- Você ama o pai, mamãe?
- O que você disse, criatura?- disse a meia azul.
- Nossa, ele fala?!- disse a outra meia.
- Fala não, atrapalha. Repete! O que você disse ?
- Vocês amam os péees?
- Amar?
- Amar? Ha, ha, ha...
- Você acha que tivemos tempo para isso, criatura?
- Tadinho, tão inocente ele ...

27 de jul. de 2006

Datas

Bom... vou postar duas vezes seguidas. Só espero que meus companheiros de blog não se importem. Acho (e com isso fica o recado) que temos que postar quando der vontade, e não numa ordem pré-estabelecida!

Eu tava por aqui me lembrando daquele ja muido batido (e as vezes massante) tema de datas comemorativas: o Natal, dia das crianças, dia do amigo etc. Muita gente diz que essas datas foram criadas pelo comécio simplesmente para aumentar as vendas de presentes, e que não expressam realmente o sentimento das pessoas. Tudo é uma grande hipocrisia de sentimentos industrializados: sempre tem uns babacas (me perdoem! mas liberdade de expressão, ne?) que ficam de cara amarrada no Natal por causa disso.
Não sou capaz de dizer que as datas comemorativas diminuam as vendas, que não possuam um caráter comercial, mas acho que há conceitos invertidos nesse tipo de pensamento.

Aqui, mais uma vez, vou me referir ao conceito de tempo. Criamos um calendário para nos orientar por nossa vida, para tentar prender os fatos à alguma coisa (no caso, ao tempo!): uma tentativa de dar uma certa ciclicidade aos acontecimentos, como por exemplo colheita e plantio no meio rural.
Mas só isso acabou não bastando, e os homens acabaram por criar dentro das datas do calendário algumas especiais. Os feriados e as datas comemorativas foram criados antes mesmo surgimento do capitalismo e o hábito de dar presentes, idem! E é ai que mora a inversão: não foi o comércio, "oh todo poderoso e maléfico que só nos explora", que inventou os feriados. Simplesmente hoje nós compramos os presentes que queremos dar nas datas comemorativas no mercado, embora nao haja nada que nos impeça de não dar presentes, ou de nós mesmos criá-los ao invés de comprar. (no caso de não dar presentes, até existe essa "moral capitalista de que é obrigação dar presentes; mas nem todas as pessoas realmente a seguem... você pode ser uma delas! Ou nao...)

A maioria das datas pretende nos lembrar de algumas coisas importantes que, com a nossa vida supercorrida e atribulada, acabamos por esquecer (ok, pode até culpar a sociedade contemporanea por isso, mas não quer dizer que antigamente as pessoas também nao tinham muito o que trabalhar e fazer!).

Na nossa mania (coloque aqui o adjetivo que quiser...) de buscar superheróis, modelos perfeitos, formou-se uma imagem obviamente perfeita: a do ser humano! O "ser humano" ama a todos, perdoa, é humilde, nobre, valente, corajoso, respeitador e tem uma memória de elefante (se alguém lembrar de alguma outra caracteristica, me fale!!!).
É humanamente impossível ser humano.

(como muitos ai devem discordar, vou passar a falar na primeira pessoa...)
Eu preciso do ano novo para rever e repensar todo o meu passado, meus erros e acertos; eu preciso do dia das mães/pais para lembrar o quanto amo (verbo intransitivo!!); eu preciso do Natal para lembrar que existe o perdão; eu preciso que meus amigos façam aniversário para lembrar que não sou ninguém sem eles;
sim!!!! eu preciso de datas!!! Eu preciso comemorar, sentir uma coisa de cada vez...

Mas se você quiser continuar de cara amarrada no Natal, eu te ofereço um pedaço do Chester (ufa... me salvei da piadinha!). Cara feia para mim é fome!!!

E se mesmo assim você insistir, tudo bem... quem sou eu para lhe forçar um sorriso.
Só não venha estragar a minha festa, porque do mesmo jeito que sorrisos são contagiantes tristeza também pega...

21 de jul. de 2006

Circo Brasil

De volta ao Brasil. (como de volta se ainda nao estivemos por aqui?)

Já perdemos a copa do Mundo, já perdemos a paciencia com cafú, ronaldo gaucho e cia, já perdemos o Bussunda. Não podemos perder esse maravilhoso espirito patriótico que nos vem ao peito e podemos pensar um pouquinho o futuro do Brasil porque, afinal de contas, somos o pais do futuro, nao?

Pra falar do futuro, sempre é produtivo dar uma olhadinha no nosso cenario anterior (e ainda atual).
Já vi comparações bem interessantes da política brasileira com teatro, com programa humorístico etc, e acho que a mais interessante é a com um circo!
Vamos la!!!
:

Temos um presidente que anda sempre na corda bamba, mas nada consegue derrubá-lo: é o nosso equilibrista.

Pra oposição, sempre me vem a imagem daquele atirador de facas vendado.
A moça que fica no "alvo" das facas eu não consigo descobrir quem é: muda todo dia.

Só os empresários conseguem passar intactos pelos leoes: são indiscutivelmente os domadores. E esse nosso circo é infestado de leões!!! O mais curioso é ver a amizade que rola entre o empresário e o leao no backstage, embora em publico eles pareçam inimigos mortais.

Esses leões, alias, consomem uma montoeira de carne, enquanto os elefantes desse circo são magrinhos, magrinhos. (essa montoeira de gente que vive no brasil é, sem duvida, um grande elefante branco: nao faz nada, so brinca de a bola e carrega mulheres na tromba)

Os donos do circo são obviamente jornalistas: no meio de tanta bizarrice, ainda conseguem manter a seriedade para dizer: "respeitável público, trazemos até vocês as alegrias e maravilhas do Circo do Brasil!!!!!"

A plateia? Facil: o resto do mundo! Paga uma micharia no ingresso (os circos hoje em geral são um pouco decadentes, mas o Circo do Brasil sempre foi...), riem à beça, e vão embora.

Faltou um palhaço...
Já sei!!! Palhaço é esse que vos fala. Daqueles que nunca perde a piada, nem se for para rir de si mesmo...

... e que nao tem a minima noção do que vai acontecer no futuro. No meio artístico, o futuro é sempre muito incerto.

24 de jun. de 2006

Poema a uma bela

A xícara é branca e bela,
E também é vazia.
Mas com isso,
Ela não se importa,
Pois é um vazio materialista.
Basta alguma boa vontade,
Com algum esforço e pronto.
O seu vazio já se dissipa,
Num mar de aparência indefinida.
A xícara não fala,
E portanto, no meu poema,
Ela não influi.
E mesmo que pudesse,
Duvido muito que tivesse
Algo de útil a acrescentar.
A xícara talvez não pense.
Mas como pode então ela existir?
Talvez haja alguma metafísica.
Ou talvez ela nem exista.
Só sei, que essa xícara me provoca.
E se eu morrer depois de tê-la tocado,
Tanto faz, pois nem uma lágrima
Irá ela derrubar.
Haja o que houver,
Na sua metafísica de objeto,
Não lhe cabe sentimentos humanos,
És bela e isso já é tudo.
E por isso se manterá impassível
A sofrimentos, dores, brigas, guerras
E até ao fim do mundo.
Pois ela existe apenas para si mesmo,
E todas as emoções que proporciona,
Ela não sente.
Como pode algo ser tão indiferente?
Me pergunto.
Enquanto minha intolerância triunfa.
Não a aceito como é.
Eu queria que ela me refletisse,
Eu queria que ela me entendesse,
E que ela me sentisse.
Mas, em sua palidez triste,
Nem para isso serve.
E talvez ela não valha nem
Uma palavra que por ela escrevo.
E talvez esta poesia tivesse
Melhor fim se fosse rasgada,
Ou se fosse reescrita,
De forma parnasiana.

Mas a xícara ainda está lá,
E ironicamente me indaga:
Eu prefiro vinho!
E você, água!?
Nesse momento,
Eu já nem vejo mais nada.
E em um instante,
Eu a atiro na parede.
E dessa fusão,
Surgem infinitos pedaços,
Que já em nada lembram
A beleza do objeto anterior.
E nem sequer um vestígio,
Uma marca, algo que desfaça
A idéia primordial que eu tinha.
Eu procurava em sua morte
Alguma essência.
Mas nem a morte,
Humaniza a xícara.
Mas o que eu queria?
Que ela gritasse?
Que chorasse?
Que sangrasse?
Não sei, não sei.
Só sei que agora,
Nem eu, nem ela
Não queremos mais.
Eu, porque me sinto um assassino.
E ela, porque realmente,
Nunca quis nada.

Flávio Vinícius

7 de jun. de 2006

Graças a minha insônia, uma aventura que tive vivendo perigosamente antes de tentar dormir e uma frase que um amigo querido disse esse texto surgiu. Ele tem influência também de um outro amigo meu, o rapaz sapeca Breno Dalla. Ah, devo admitir, eu gosto desse texto. Desejo que vocês o apreciem!!!
Não esquecendo de escreverem suas opiniões, logo críticas!Até e Carpe Diem!
{E sim, eu sou Limão Lilás..rs..}__________________________________Mariana M.B.S.




AO MESTRE, UM PULINHO.

{...}
- Mãe, olha pra mim... escute o que tenho a te dizer.
- O que foi, Robesval?
- É que eu quero...
- Hum!- {a mãe come, sem olhar para ele}
- Olha pra mim, mãe!
- Ah! Fale! O que é? Quer ir à ponta do pêlo do coelho? E olhar nos olhos do grande ágil, como diz aquele livro maluco que você está lendo? Eu ouvi você comentando com Seu José.
- Mãe, O Elvis é um cachorro, em primeiro lugar. E em segundo lugar, é Grande Mágico. E terceiro, o livro é maravilhoso, conta a estória da filosofia de uma maneira linda e o Seu José concorda. - { e balança a cabeça}
- Que nada! Aquele livro e Seu José são incentivadores de jovens inúteis e preguiçosos... faz você cuspir no prato que come!- {e abaixa a cabeça, voltando a comer}
- Mãe!
- Não vê que estou comendo!!!
- Você não pode parar um pouco e me ouvir? Tenho certeza absoluta que sua comida não sairá correndo de você. Até por que você está nela!
- Você se acha tão superior, né, Robesval?
- E se eu for? Aaaa... eu sou diferente, eu sei disso. Na verdade, todos somos diferentes uns dos outros.
- Quem está colocando essas idéias na sua cabeça? Você não vê? Estamos num cachorro de segunda categoria! Você deveria estar buscando um de primeira, assim como o Júlio fez para a família dele ao invés de ficar com esses pensamentos bestas...
- Mãe, eu não quero ser igual ao Júlio! Eu quero ir trabalhar no circo! É isso que estou tentando dizer.-{ fala com os olhos brilhando}
- Ai, você só me dá desgosto! Lembro-me daquele dia em que você quis ir para o focinho do Elvis, e ficou lá parado. Eu gritei tanto. Achei que fosse o seu fim!
- Aquele foi o dia mais feliz da minha vida!E eu quero mais dias como aquele, mãe, por isso vou para o circo.
- Circo? Mais uma idéia maluca. Você ... eu não sei mais quem é você...
- Eu mudei, mãe. E tenho que ir porque sei que aqui não serei feliz.
- Eu não consigo entender... mas eu quero que você seja feliz.
Então vá, Robesval.Vá...
- Mãe! – {vai à direção dela, e a abraça}
- Adeus, filho.{diz, enquanto vai embora, perdendo-se na pelagem}
- Até um dia,Mãe...


Robesval vai até a ponta de um pêlo, contempla a água que o cão bebe e pula para fora da pelagem de Elvis.

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Robesval foi a primeira pulga a ir trabalhar no circo. Sua vida é vista como uma lição de paciência e coragem para todas as pulgas que querem fazer circo, teatro, etc. e encontram dificuldade para se realizarem como artistas.
Ele teve participação na criação da música “Como vovó já dizia” de Raul Seixas por sussurrar no ouvido de Raul o trecho “a formiga só trabalha por que não sabe cantar” .

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Este texto é dedicado ao Mestre, Robesval, com muito carinho. E a todos que temem dar o primeiro passo, pulo ou vôo em direção àquilo que realmente querem.

P.s.: “Arrisco, logo existo”- Robesval Argunte, o Mestre .





Limão Lilás

28 de mai. de 2006

Tempo

Acho que já esta em tempo de atualizar o blog! E com algo que não seja exatamente poético e bem feito... vou improvisar!
Bom, eu queria falar sobre o tempo, mas, como? Me falta tempo para escrever...
Eu perdi um tempo procurando no meu armário uma redação que eu gostei de escrever e que falava exatamente sobre... o tempo! (Isso me faz lembrar que a escrevi num simulado do Pentágono, o que me lembra também que nao se pode repetir toda hora as mesma palavra e as mesmas construções numa redação, porque denota um fraco vocabulário e repertório linguístico. Aliás é muito estranha a sensação de poder escrever sem as amarras de dissertação! Eu tenho a nítida impressão de que era mais fácil: eu me escondia sob toda aquela formalidade... agora eu me escondo sob o véu da aliteração!)
(Tem três erros graves nesse trechinho que poderiam até me zerar se eu o escrevesse numa prova)

Bom, parêntesis a parte, eu queria falar do tempo; mas o tempo que eu gastei com minhas reflexões sobre a escrita e memórias vestibularescas me fez esquecer o que eu tinha a dizer(muito conversa de botequim isso!)

Ah... e porque eu queria falar sobre o tempo?(e ainda quero, mas não consigo mais ter boas ideias). Primeiro porque acho um tema superinteressante e que permite boas discuções! Segundo para justificar a minha ausencia de posts nesse blog, que por sinal eu mesmo que criei!

É no minimo uma insensatez minha ou de qualquer pessoa dizer que nao tem tempo!!! Ou vai me dizer que o seu dia nao tem vinte e quatro horas? Ou que os seus minutos duram menos do que 60 segundos? Se você disse sim a qualquer uma das duas perguntas, por favor procure ajuda psicológica! Tenho certeza que aqui no blog tem pessoas que podem te indicar um bom (ou até mesmo se indicar...). Fato: todo mundo tem tempo! E por sinal ele é o mesmo! Talvez tempo seja o único recurso escasso igualmente distribuido na sociedade!!!!Socialistas de plantão, concordam?

Ah... tem o tal do "tempo psicológico" que a senhorita Virginia (Woolf) tentou me mostrar um dia desses (não que eu tenha entendido completamente, mas acho que consegui apreeder a idéia básica).
Se me permitem a citação (ela é bastante triste, e nao combina com o clima do post, mas eu quero colocar!!!)
"(...) dez anos sao como um dia, na dilatação extraordinária que a consciência individual impõe ao tempo, às percepções, aos afetos."
(ok... eu fiz um corte habilidoso da parte realmente triste!)

(Eu to sem jeito de fechar... nao to afim de usar "em suma" ; "desta forma" etc)
Vou deixar uma mensagem então...
O tempo não é maior do que nós, indivíduos, nao é maior que a nossa consciencia; ele nao consome a nossa vida, nós é que consumimos ele! Só nao tem tempo que é preguiçoso; alguém por aqui viu o filme "Um grande garoto" com o Hugh Grant? Eu acho que é mais ou menos por ai... quem menos "tem tempo" são as pessoas que fazem pouco, porque ficam presos à uma rotina sem sentido. Quem faz muitas coisas ao mesmo tempo, sempre arruma um para fazer uma atividade extra!
Só acho que eu deveria passar a seguir o que eu mesmo proponho como linha de raciocinio. E também acho que esse post já ta grande demais. O tempo acabou! Por hoje (mas é claro que vcs ainda podem comentar ne? :-P )

12 de mai. de 2006

Opa gente...Já é hora de atualizar!Então aí vaimais um poema.Bem, esse era o texto com que eu pretendia abrir o blog, porém, o Vitor foi mais rápido e postou o outro sem me avisar...Nenhum problema o "Teatro" até que abriu de forma bem lúdica.Porém, agora vamos a outro estilo de poesia.Nesse poema de forma bem simplificada eu vou ,a cada estrofe mais ou menos, contando as fases da literatura brasileira.É claro que não é nada muito profundo ou detalhado, mas sei lá eu quis fazer um poema sobre isso e fiz ué!?Espero que gostem!
P.S:Ah, tem umas citações bem legais no poema, espero que gostem...mas sinceramente tem algumas que tenho certeza que quase ninguém vai perceber!Por exemplo:"Varando os céus de gritos!".Verso propositalmente parecido com o do poeta simbolista Cruz e Sousa no poema "Litania dos pobres".Bem...é isso.

As histórias da minha terra

Nessa terra inconstante que se planta,
Todos os futuros destinados.
Há paixões puras em desatino,
Com um mundo recheado de pecados!

Há dinheiro, há riqueza
Prata ,ouro, tristeza.
Que laços tão delicados,
Nos une em torno de tais proezas?

Seria a história?
Contada por uma voz abatida e rouca?
Mas quem descreves a tua linha
Com capítulos e personagens,
Molhados em pena tão louca?

A Arcádia já se foi no tempo,
No tempo que ainda se desenrola.
E agora Nise, Cláudia e Bárbara,
Choram por prados de outra hora.

O Romantismo foi declarado morto,
Morto, sepulto e degredado!
Fora de idade que morreste?
Ou fora de poetas condenados?

A alma cresce, a terra enobrece,
Porém, uma sociedade que esmaece.
E diante de tais contradições,
Realistas por toda parte!
Com os olhos voltados a terra,
Com os corações mergulhados em arte!

E agora terra,
Que fazem da tua beleza?
Fazem ciência, modernidade
E por mais bela que seja,
Não escapa das desigualdades.
E dos gritos de uma revolução,
Que ardem no peito da humanidade!

Mas, nesta terra que tudo cresce!
Revolução não acontece.
Mas arte ainda há!
E o poeta cansado de trabalhar (para outros)
Agora escreve para si mesmo.
E tem sua vida como enredo,
A se desenlaçar por entre os dedos!

E tempo vai, terra fica.
Ainda sem luzes para as feridas,
Nem vento que te leve,
Esta capa de perfídia!

Mas e agora terra, o que sois?
Sois a arte simbolista,
Sois pura metafísica!
Sois o homem ainda perdido,
Varando os céus de gritos!

Tantos sonhos despedaçados!
Em augusto prado e doce orvalho,
Por cima dos ombros das musas belas!
Pela cabeça de mulatos em favelas!

E nesses dias de poesia moderna
Arde uma doce chama eterna!
Será Pasárgada que se proclama
Ou Carlos Drummond que nos encanta?

É chegado nossos dias,
Sem parede, sem teto, sem relento,
Uma forma final de se expressar,
Um derradeiro grito de esperança pelo ar!

Ai!Esperança que reaparece
Vinda no vento que a renova.
Mas, saiba, luzes dessa vida,
É este mesmo vento que vos assopra...

6 de mai. de 2006

Como disse o Flávio, esse texto foge bastante do Carpe Diem, estilo que eu adoto para viver e que deixo falar em meus textos.
Esse texto é um ângulo da realidade.
Apenas um ângulo.
São conclusões que "parecem" generalizar.

P.S:Não se deixem enganar pelas palavras e seus significados.

O quarto de espelhos

As pessoas são frias.
O fio de cabelo baila no ar e ri, sem medo do encontro inevitável com o chão.
(qual será o nosso encontro inevitável?)
O frio nos faz rosnar e tremer.
A frieza* que temos com nós mesmos faz nossos cabelos caírem.Fio a fio por causa do stress, da depressão, da agonia, do câncer, do pânico, do regime e da culpa.
O frio nos torna românticos.A menina acaricia os cabelos daquele cuja a mão combina-se perfeitamente com a mão dela.
O frio nos aproxima.É para ele que confessamos a necessidade que temos de calor humano, admitimos que não dá para viver só.
A frieza* que adquirimos nos isola e distancia.Somos enjaulados pelo desprezo e pelo egoísmo, ambos feras que criamos.
E nessa limitação, nessa sala triste vamos nos tornando mais frios até virarmos meros objetos.

As pessoas são frias e metidas.
Metidas em suas casas, seus carros e suas cavernas; escondidas nos eternos úteros maternos.Não se permitindo sentir algo completo que não apresente porquê, só o sabor, o cheiro, a dor, o calor e, quem sabe, o amor.
Para as pessoas metidas que estremecem diante daquilo que não tem valor comercial ou medida, a vida é uma propaganda excelente cujo o produto, o ser humano, pode ser comprado, trocado, renovado e adaptado, tudo isso dependendo do seu bolso e do seu gosto.

As pessoas são frias, metidas e medrosas.
Elas temem suas próprias sombras.
O que será que elas devem para estas?
Que segredos foram escondidos das sombras?
Quantas refeições a vergonha e o orgulho serviram para as pessoas devorarem: lamentações, feições, orações e corações.Tudo isso foi engolido com a ajuda colheradas grandes e fartas que levavam a boca aquilo que os olhos não queriam ver, lançando, ao abismo de cada pessoa, o veneno.E no final, só os pratos(semi-limpos) restam.Há no fundo de cada prato uma imagem.A pessoa, ser comilão, o objeto olha para esta e indaga assustado:
-Quem é você?
A imagem muda depois de ter acompanhado os movimentos labiais do objeto desde o início da fala, fica perplexa.
E o objeto desvia o seu olhar e ignora a pergunta feita para si mesmo.

As pessoas são frias, metidas, medrosas e surdas.

P.S:A vaidade nos leva a armadilha.No espelho, finalmente, nos encaramos com a imagem.Se formos autênticos e corajosos, olharmos para nossa alma e descobrirmos quem somos, arrancando a máscara, as botas e luvas sujas de lama e o manto desbotado.
E caso não haja espelho e nem vaidade, encare o outro.

*frieza= desprezo, indiferença

Autora:Mariana Moisés

25 de abr. de 2006

À Estrela

À Estrela


Sentado à noite, o brilho fraco
do passado de uma estrela longínqua
Seduz meus olhos por horas a fio
...
...
...
Eu não vou conseguir continuar assim...
...
...

Quem sabe agora?:

À Estrela

Olho pro céu à noite
Sinto-me pequeno
Diante da imensidão do espaço

Vejo a lua
E aquele bando de estrelas
Que dizem estar bilhões
De quilômetros distante
Parecem pontinhos
Na verdade, são muito,
Muito maiores que eu.

Eu,
Eu sou apenas poeira
que elas deixaram por aí
Há um tempão atrás,
depois da tal explosão.

Alguém me disse:
“-- O céu é um tapete
Bordado com linha de prata”
Acho que desse tapete
Sou um graozinho de pó.

Não.
Talvez apenas um elétron,
Girando em torno de
um gigantesco próton.
Sem saber para que lado ir.
Esbarrando em meus semelhantes.
Tentando fugir do orbital,
da nuvem de probabilidades...
Tomar meu próprio caminho.

Ursa maior, Cruzeiro do sul,
Outras que não lembro:
Querem dar nomes às estrelas...
Uns idiotas, se quer saber!
Você iria gostar de ser batizado por pó?
Ou por um elétron?

Eu não...
Então fico quieto,
Recolho a minha pequenez
E fico a pensar em mil coisas
Coisas que talvez uma estrela nunca pense
Ela tem muito mais com o que se preocupar.

Vitor Paiva – 21/12/2004, a meia noite e pouca...(ops, já era dia 22 então)

Concertado e arruinado em vários outros dias...

– “Poesia!?”

Apesar de ambos (eu e o Flávio) termos começado com poesias antigas nao significa que o blog seja unicamente de poesia ou de nostalgia...


Sobre o texto: bom, ele é um dos primeiros poemas que realmente consegui terminar (porque quando não gosto de alguma coisa que estou escrevendo, acabo parando, e isso ocorre muito) , além de ter um significado bem especial para mim. Apesar da linguagem simples(e até um pouco infantil... mas eu diria que até intencional), acho que para uma leitura de alguma profundide ele precisa de alguns conhecimentos científicos que gosto de associar às questões cotidianas... quase que seguindo um caminho inverso (que seria explicar a ciencia pelo cotidiano); e claramente influenciado pelo Augusto dos Anjos, apesar de conhecer poucos poemas dele...

Aberto a comentários, criticas etc

8 de abr. de 2006

Primeiro ato

O Flávio queria ter o post inicial do blog, e lembrei desse poema: tem tudo a ver com o nosso conceito, além de ser um dos melhores textos dele!
(quem postou foi o Vitor...)

Teatro capitalista
(por Flávio Vinícius)

E cansado de rotinas...
Fez-se um artista,
Queria reinventar o mundo,
Criar novos papéis e peças escritas.
Mas, a ausência de justiça
Tornou-o um romântico realista.
E esse foi apenas o embrião,
Base de um romancista.
Que escreveria depois um épico.
Nasce o teatro capitalista.

Num país há muito esquecido,
Fulgura uma lenda sem título.
Que devora a cada capítulo,
As entranhas de um povo servil,
Derramando sangue
num país que se diz varonil.*
Mas a peça, óbvio tem um herói
Ou seria antagonista?
O qual o monstro não intimida,
Pois nosso herói é consumista!
E devido a sua natureza,
Tem-se quase que certeza
Que haverá de ter fim diferente.
Por mais incerta que a morte seja.

Mas essa estória...
É tão diferente...
Da que foi contada para a gente.
Pois o mocinho,
Não se comove, não se mexe,
Nem se compadece da dor.
E o que ele faz?
Ao protagonista sustenta,
Quase que com amor!

O final é óbvio, não comove,
A dor de um povo não emociona.
Pois o povo é fraco, é covarde...
E pelo monstro e seu comparsa
Ele é derrotado!
Ninguém repara...

Mas como esperavam vitória deste?
Se ele era mal alimentado?
Se era mal armado?
E no fim inclusive, odiado...

E o herói sorri,
Nas mãos poder e glória.
Incapaz de mudar rumos na História.
Pois não interessa...
Aliás, que história é essa?

O final é óbvio
Tende ao esquecimento,
A sofrer erosão do tempo,
E assim se apagar da memória.
Mas, a arte se reinventa.
E o teatro faz da vida,
Seu principal artista.
E ainda que esta não brilhe em cena,
Este teatro ainda encena,
O texto que foi escrito pela rotina,
Pelo cansaço e pela solidão,
Vista todo dia no peito do meu Brasil.
Mesmo assim, ninguém ainda aplaudiu...

Flávio Vinícius Ferreira de Araújo...18/12/05

*Varonil: Viril, enérgico, heróico



E mais um blog se inicia na internet... vamos ver no que vai dar!