7 de jan. de 2010

Semiótica do descaso meu

Consternada, admito minha incapacidade reflexiva.
Admito quão cansativa a tentativa da mesma pode ser.

Reconheço a bipolaridade de meus pensamentos, incluindo sua inutilidade.
Pude perceber, contando com a dormência de minha insanidade, que as noites ociosas são de semelhança abissal. Dou uma piscadela para a escuridão, dirigindo-me aos pensamentos que fugiram e, pairando sem objetivo ou âmbito, criaram um pesado redemoinho sobre mim.
O denso negrume funciona como um sudário frágil, questionável, para meu corpo. Assim como um fertilizante vital para minha indecisão.
Posso dizer que ser constante faz parte de mim. Sim, ser inconstante também. Não desejo vida longa. Posso fugir de meu presente no futuro.

Escrevo sem interlocutor, não me interessa seu discernimento.
Arisco-me arriscando o prosaico.

Meu desdém é o alívio de alguns, apenas descaso para outros.
Sinto-me confortável em rotinas caseiras, perfumes conhecidos, rostos amados, cores neutras, vícios prestativos. Timidez não me incomoda, apenas auxilia minha ironia. Não sou como aparento. Não almejo felicidade eterna. Objetos insignificantes são demasiado importantes para mim.
Amigos mastigam minhas obsessões, engolem minha personalidade forte e cospem o que há de melhor em mim. Comparo-me ao azul-celeste que me observa. Afinal, estou mais distante do que julgam, aparentemente preenchendo um espaço maior que imaginam.

Meus ressentimentos são meticulosamente camuflados.
Não sou hipócrita o bastante.

Não tenho medo de cerrar os olhos quando os mesmos degredam uma água salgada, reconfortando-os pelo vazio rapidamente preenchido que provocam.
Prefiro imaginar tramas utópicas com o incógnito a fortificar ligações com o íntimo.

Posso ser quem você pensa que conhece e acredita que não.
Alguém que procura no ócio algo para fazer.

Tudo que vejo é uma simples efígie, um esboço de traços leves e delicados, vestígios do desconhecido que luto para desvendar. Iludo-me, forçando meu senso a obedecer ordens pouco comuns e injustamente ineficazes. Sou capaz de escolher um caminho que nunca vi, mas que conheço perfeitamente. Caminho que me conduz a um labirinto espiral e irrevogavelmente incerto.
Resta-me perguntar se sou apta para indagar meus passos, já que meus calos ardem acompanhando uma pulsação cálida, que me percorre por inteira.

É apenas mais uma pergunta cuja pergunta não sei.
Posso conviver com isso, apenas ignore as palavras que escrevi.


Mylana Dandara Pereira Gama

5 comentários:

Flávio disse...

Adicionei ela no Orkut só por causa desse texto. Acho que valeu à pena...

Apresentações?
Mylana é uma garotinha feliz e contente (???) de Alagoas, Macéio. Um dia passeando pelo Orkut, achei a foto dela curiosa, fui ver o perfil. Vi esse texto, gostei muito e add...
Acho que descobri um jeito realmente mais qualificado de selecionar os amigos no Orkut...

Anônimo disse...

Não há contradição. Cada frase parece ter um único significado, mas só a autora sabe. Para o leitor, é totalmente multifacedo, dúbio e intrigante.

Uma aula de boa escrita!

Unknown disse...

Suas palavras deixam mais claras as coisas, por mais intrigantes que sejam, me supreende a cada frase. Amo você escrevendo. *_*

hozana disse...

Ela é uma artista! sabe do que está falando! simplesmente excepcional esse texto! adorei =]

R.L. disse...

Adoro esse blog
Muita merda pra vocês