28 de out. de 2010

A Culpa é da Medicina

Disse-me ele certa vez, quando falávamos a propósito das chamadas crueldades da Idade Média:
- Tais horrores na verdade não existiram. Um homem da Idade Média condenaria totalmente o nosso estido de vida atual como algo muito mais cruel, terrível e bárbaro. Cada época, cada cultura, cada costume e tradição tem seu próprio estilo, têm sua delicadeza e sua severidade, suas belezas e crueldades, aceitam certos sofrimentos como naturais, sofrem pacientemente certas desgraças. O verdadeiro sofrimento, o verdadeiro inferno da vida humana reside ali onde se chocam duas culturas ou duas religiões. Um homem da Antiguidade, que tivesse que viver na Idade Média, haveria de sentir-se tão afogado quando um selvagem se sentiria em nossa civilização. Há momentos em que toda uma geração cai entre dois estilos de vida, e toda evidência, toda moral, toda salvação e inocência ficam perdidas para ela. Naturalmente, isto não atinge a todos da mesma maneira.

Bem que eu queria, mas não escrevi o texto acima. Mas achei brilhante, exato e aplicável a situações demais para não compartilhar. O título fui eu quem pus. A culpa é da medicina pois foi ela que nos aumentou a expectativa de vida, fazendo com que culturas diferentes convivam na mesma sociedade.

Reverencia:
HESSE, Herman. O Lobo da Estepe. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: BestBolso, 2009 [1927], p. 32.

Um comentário:

érica disse...

Muito válido o texto, com certeza. Por isso que eu acredito na "auto-moral". Como diria o próprio Herman Hesse, em Demian, o homem tem de buscar o certo e o errado dentro de si mesmo, já que esses dois conceitos são passíveis de se transformarem com o tempo.