27 de ago. de 2008

Da Imaginação

A tristeza é reação normal
Face ao absurdo que é a vida
Mas como posso eu ser triste?
Se conheço as pequenas coisas
E nelas residem uma alegria
Que não pertence a esse mundo
Nem a essa vida...
Quando estou triste
Sempre vem o pôr do sol
Me maravilhar e me fazer crer
Em algo que eu não sei se existe
Mas não seria a imaginação de uma coisa o suficiente
Para torná-la real?
Veja bem, não sei se Deus existe,
Mas se posso imaginá-lo,
Isso não o torna metafisicamente real?
Não teria essa imaginação poder e influência?
As coisas que imagino são suficientemente real
E a realidade é suficiente imaginária
Para me impedir de dizer que algo não existe.
E por vezes chego a crer
Que o que não existe tem mais luz e consistência
Do que as coisas reais.


Íris Kirsten / Ângelo Cruz

3 comentários:

Anônimo disse...

Poema a duas mãos? Parece mais de uma terceira pessoa. Interessante!

A demonstração do Descartes para a existência de Deus é por ai. Se posso imaginar um ser perfeito, ele pode existir.

Beijos/Abraços,
Vitor

Luana Freitas disse...

Mas como posso eu ser triste?
Se, nos dias mais pálidos, eu caio na pegadinha da moeda colada no chão...

Unknown disse...

Li esse texto faz pelo menos uns 10 dias, mas acabei não comentando porque meu pensamento não vinha. Acredito que não podemos dominar nossa mente ao ponto de escolher o que pensar. Senão seria muito simples devorar aqueles textos sacais de sociologia sem parar pra pensar no Fluminense, ou demonstrar teoremas difíceis de álgebra sem lembrar da namorada. Mas acontece que o pensamento é involuntário. Do nada ele vem. Vem muitas vezes com uma dose de realidade, que nos tira das nuvens e trata de firmar o pé no chão. Tem também os momentos difíceis, como os de morte, quando em meio à dor da perda e da saudade, ele suavemente traz consolo e nos reergue talvez apoiando-se em uma perspectiva de futuro. Existem inclusive as sensações que provocam determinado tipo de pensamento. Por exemplo, quando sinto o famoso cheiro de chuva, me vem em mente a minha infância, onde eu brincava com meu pai na simples e pequena Praça Atenas, perto de onde eu morava na época. Lembro até com riqueza de detalhes. Mas dizer que tudo aconteceu exatamente daquela forma eu não posso. Não consigo garantir como as coisas foram e são, apenas expressar o que sinto. Tudo que faz parte da minha imaginação.