7 de set. de 2008

Inteligência

Hoje é o dia que o pau-brasil se tornou brazil.

Como não sou patriota nem nacionalista (a pátria que me pariu não permite esse tipo de orgulho), o texto a seguir nada tem a ver com o 7 de setembro. Na verdade talvez tenha. Lembrar que a educação nesse país não é tão ruim para alguns sortudos.

Aproveito para cumprimentar os amigos militares que hoje rivalizam com a Gisele pelas ruas do Centro do Rio.


Inteligência

(ou de como um cdf mata uma lacraia)

Baseado em fatos reais

Era quase meia noite. O dia, deveras cansativo, fora típico da vida de um workaholic. Aquele copo de leite com ovomaltine era sua última refeição antes de dormir. Ele estava jogando um pouquinho de água no copo para não grudar o chocolate e facilitar a posterior limpeza. Seu maior desejo naquele momento era desabar.
Uma lacraia subia pelo ralo da pia.

Não. Não houve susto. Apenas a resignação de encontrar mais um obstáculo ao sono redentor. Descobriu posteriormente na Wikipédia que a lacraia tem hábitos noturnos. Malditos sonâmbulos! Abriu a torneira, para que ela não subisse pia e atingisse a louça. Notou triste como aquele bicho nadava bem (tinha voltado para as aulas de natação aquela semana, e estava com algumas dificuldades).

Deixou a água vazar para, enfim, enfrentar o animal. A lacraia tinha uma vantagem, seu rabo é arma potente, enquanto o corpo do Homo sapiens sapiens é nu. Pegou uma faca de cortar pão frances do escorredor de louça, e partiu para o embate! Parecia uma luta de esgrima, digna das Olímpíadas de Pequim (se perguntou o porquê de não ter sido escolhido para a equipe brasileira).

Depois de alguns golpes a esmo e de desviar por muito pouco de uma habilidosa estocada da lacraia contra sua mão, finalmente conseguiu o golpe certeiro, bem no pescoço dela, que se contorceu toda e tentou vários golpes, mas apenas atingia a faca de cortar pão francês. Mas continuou viva. Como portava uma faca de cortar pão francês, nosso herói resolveu fazer o movimento do serrote. Mas o pescoço da lacraia continuava a resistir bravamente.

"Mas é claro", pensou. "Ela tem um exoesqueleto, como todos os artropodes". Ou qualquer coisa que o valha. Nunca estudara biologia com tanto afinco. Tinha apenas vagas lampejos. Aquilo era mais forte do que muitas armaduras medievais.
Bem, a arma branca se mostrara inútil. Que fazer? Parou para pensar. Primeiro riu de si mesmo por ainda lembrar-se das aulas de biologia do ensino médio, há tanto tempo. Bem, se elas ajudaram a lhe explicar porque não é possível matar a lacraia com uma faca de cortar pão frances, ele pensou poder usar esses conhecimentos para achar alguma forma mais eficiente para cometer o assassinato (e nada de considerações ecológicas!).

Fiat Lux!

Os insetos são animais pecilotérmicos, não resistem ao fogo. Pegou a caixa de fósforos. Tirou dela um palito. Analisou-o. Muito curto. A lacraia certamente golpearia sua mão antes que pudesse atingi-la com o fogo. Precisava de uma tocha, ou algo parecido, que lhe desse a distância necessária.

Olhou em volta e viu o folheto de propaganda do supermercado da vizinhança. Enrolou-o. Lembrando-se da física, ateou fogo bem na ponta do papel, pois sabia que caso contrário o fogo não pega e partiu para o ataque. Ela se contorceu a vez derradeira. Estava morta, em frangalhos.

Vitória, afinal!

4 comentários:

Anônimo disse...

e eu tenho o maior orgulho de ter presenciado a segunda batalha! =D
p-r-e-c-i-s-o fazer um filme sobre isso. deixa, deixa?

beijo beijo cheio de saudade.

Unknown disse...

A DO REI!!!!
Bjs

Anônimo disse...

Hahaha... O conhecimento é mesmo decisivo nessa coisa louca de seleção natural.

Unknown disse...

Eu deveria imprimir esse texto e carregar comigo sempre pra mostrar aos alunos que me fazem aquela pegunta chata: "Pra que serve isso?" Você lembrou do exoesqueleto da lacraia e isso te foi útil. Lembrou da físca quando queria propagar o fogo de maneira ideal. Poderia, num outro contexto,(puxando agora pro meu lado)lembrar da matemática, mais especificamente da geometria, pra rumar num caminho mais curto na rua, por exemplo. É isso que eu digo, quase nenhum conhecimento é inútil. Tem as utilidades práticas, as nem tanto, como as do texto, e aqueles conhecimentos(propriedades de figuras planas, por exemplo), que servem pra desenvolver certas habilidades que serão importantes no futuro, mas para outras finalidades. É mais ou menos isso que eu sinto. Parabéns pelo texto, amigo. Como sempre sensacional e não perdendo a chance de fazer um trocadilho...aquela do Fiat Lux foi perfeita.