8 de ago. de 2009

Poesia e codigo

Há pouco mais de um mês li uma frase perturbadora:

“Código é poesia. Ninguém sabe o que significa”

Era um artigo sobre a conferência internacional de CMS (Content Management System), e frase foi proferida pelo criador da Word Press, concorrente do nosso blogspot em hospedagem de blogs e afins. A idéia é que para que as pessoas comuns possam usar a internet como ferramenta de comunicação, elas não devem precisar conhecer a linguagem de programação.

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Como toda boa peça publicitária, esqueci o que ela significa no contexto original, e fiquei matutando sobre seus diversos significados implícitos, obscuros e, claro, não desejados pelo emissor.

Ele afirma categoricamente ninguém sabe o que significa poesia. E, pensando bem, isso de fato se aplica a muitos poetas. Ontem estive no MAC (Museu de Arte Contemporânea de Niterói). De fato, a arte contemporânea é feita para não ser entendida. Aliás, permita-me um pequeno parentesis: morte aos arquitetos (ao menos ao Oscar Niemayer), que não sabem construir nada funcional, pois ser útil é totalmente secundário diante do ser bonito.

Bem, retornando, uma arte feita para não ser entendida é, na minha singela opinião, uma negação da arte. Eu gosto muito de descobrir significados não pretendidos pelo artista, mas uma obra que não tenha um ou vários significados desejados, para mim não passa de casca de árvore, sem vida. Até pior, pois a casca da árvore já teve vida um dia.

Uma vez perguntaram para um pianista o que ele sentida quando tocava. Ele olhou para a entrevistadora com certa piedade, deu um profundo suspiro, e respondeu: “se eu soubesse explicar com palavras, eu seria um poeta; como sou músico, sugiro que você me escute tocando”.

Toda arte é uma tentativa de se expressar, de dizer alguma coisa, um conteúdo. Às vezes, o significado não está claro em outra forma, em outras palavras além daquelas em que se expressa o artista. É por isso que alguns poetas não conseguem e nem podem se explicar.

Gostaria, então, de parafrasear o Sr. Matt Mullenweg, criador do WordPress, e dizer: “Poesia é código. Só o seu emissor pode saber o que significa.” E a grande questão do relacionamento humano é decodificar a poesia de cada um nos termos da nossa própria poesia.

5 comentários:

Cecília disse...

Adorei a paráfrase. A conclusão final também! Vitor, vc é um belíssimo escritor! Bom com os números e bom com as palavras! Tá demais hein, garoto! =)

érica disse...

Bom, aquela garota lá no MAC (diante do quadro das listrinhas) parece ter entendido muito bem. :p
Ironiazinha que funciona como uma outra maneira de dizer que concordo contigo, meu chapa.

. carolina . disse...

Hahaha, me descobriu, né? rsrs. Bem vindo!

Bom texto! Gosto de decodificar as coisas nos termos da minha própria poesia, como você disse (achei a frase bem bonita). Mas particularmente adoro demais saber os significados para o emissor.

Eu, por exemplo, ficaria feliz se o pianista ao menos tentasse explicar com palavras, rsrsrs. Sou curiosa, fazer o quê? :P

Beijos

Unknown disse...

hum, meu caro amigo, estou impressionada com sua capacidade de poetizar! conclusão muito bonita do texto! parabéns, de verdade!!
agora, eu devo ressaltar aqui que suas palavras bonitas escondem uma polêmica muito interessante: a críica ácidíssima à arte contemporânea! não vou nem comentar muito sobre isso, pq nesse quesito, eu ainda estou em cima do muro... agora uma coisa eu concordo: arte sem sentido não é nada!
mas e se os próprios contemporâneos ainda não acharam o sentido de sua arte?? possível?
não sei... mas uma coisa tenho certeza: arqueólogos daqui a 5 séculos com certeza vão achar sentido para elas... ;)

aluah disse...

a racionalidade de Apolo com a espontaneidade de Dionísio; a individualidade e aparência de Apolo juntando-se com impulsividade de Dionísio...