14 de nov. de 2006

Era um nó
E estava na garganta
Na trança desmanchada
Na corda que te puxava um pouquinho mais
para perto de mim
Fita fina e vermelha
Ramificada, levava cor do rolo ao chão
E contava, num sussurro, algo que se esquecia
Era uma fita cor de sangue
Era uma tinta
Daquelas de textura já grossa com bolotas que davam
um aspecto revolto ao mar
Mas o silêncio das pinceladas da menina
acalmavam a fúria marinha num
misto de genialidade e delicadeza, quase
que uma gentileza aquela pintura
Quanto jornal!
De ontem, de muitos ante-ontens
cobriam algo que o pé escapava
Era um pé menino com a unha do dedão
roxa, culpa do bicão na bola
Pé sujo, pé pronto para correr
Mas se assustou e tropeçou
E, assim, o fogo o atingiu
E no jornal o corpo se escondeu
O corpo que fora de um menino
Era vida
Um karma, uma vitória, uma saída,
um fim, uma esperança, um recomeço,
um reencontro, uma luta.
Um filho, uma resposta
Muitas vidas
Em uma só
Um só

A solidão que nos consome e que como efeito escolhemos nos isolar cada vez mais.
O medo e a culpa, eles nos apressam e assim não questionamos o nó e a angústia que sentimos, não percebemos as belezas simples e reais, não mais nos deixamos compadecer com o sofrimento alheio e assim não nos impulsionamos para procuramos uma solução.
Mas são vidas e mais vidas, muito tempo, não é, companheiro?
Ah, farei amanhã.
Votarei com consciência amanhã.
Direi que te amo amanhã.
Perdoarei o filho amanhã.
Largarei amanhã.
Acordarei amanhã.
Viverei amanhã.
Amanhã.
Um brinde a esse amanhã que nunca chega, a esse fantasma do futuro que pertubamos, figurando nele a solução que evitamos procurar.
Super-herói.
E num ato de pura "ousadia" questionamos: para que procurar a solução?

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Piiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!
- É, acabou. – fala, arrumando a gravata.
- Percebi.
- Você está caidinha ainda, Clarice. Precisa sair, usar uma maquiagem, roupas bonitas que explorem seu corpo e beleza.Vá se divertir. Já falamos sobre isso.
- Mas você me perguntou o que eu estava pensando e eu falei, o que tem haver com saídas e batom?
- Essa bipolaridade sua, isso assusta seus familiares ainda. Você é nova, vá curtir a vida.
- Acho que o fato de eu ser humana assusta eles.
- Clarice, mesmo sendo humana saiba que você é capaz dos feitos dos anjos, é capaz de tudo.
- E nesse tudo não inclui ficar triste às vezes?
- Bom, por hoje é só. Até quarta-feira? Te avisaram que nossa próxima conversa não será na terça?
- Sim.
- Ok. Então... – diz enquanto levanta-se encaminhando ela para a porta azul-... até quarta!
- Um dia, eu te entendo.
- É.
- Tchau, até.- e vai embora.

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"Deixamos para amanhã viver,
deixamos para amanhã viver com dignidade
Talvez a morte nos cai bem
talvez seja essa a solução
para os simbolistas de plantão
para mim, não

fita
tinta
jornal
viola
violeta
vida
vida
Quanto mais me tiram ela, mais dela brota em mim, mais dela fica no meu ser.
Vida e mais vida ..."- rabiscos de Clarice na parede de seu quarto.

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Carpe diem,senhoritas e senhores.


Mariana

4 comentários:

Anônimo disse...

Bravo!Bravo!Genial Mari!!Sem querer ser puxa-saco mas eu Amei...achu q eu jah tinha lido parte dessa poesia antes...mas...naum havia percebido toda a genialidade q há nela!Amei...é linda!Eu ia postar...mas...diante de tal poesia...achu melhor eu ficar quieto...Ou naum???E outra coisa...algumas vezes o seu texto parece uma prosa poética!Mas prosa poética em poesia???Isso é novo!!!Bjus...bjus...Xau

Anônimo disse...

será proposital? :

"Um karma, uma vitória, uma saída,
um fim, uma esperança, um recomeço,
um reencontro, uma luta.
Um filho, uma resposta
Muitas vidas
Em uma só
Um só
Só"

sem comentários... mas comentando:
tem até desenho... não tem palavra melhor p/ representar que F-O-D-A

Anônimo disse...

Por um momento, pensei em ler esse blog e comentar amanhã...

"Ah, farei amanhã.
Votarei com consciência amanhã.
Direi que te amo amanhã.
Perdoarei o filho amanhã.
Largarei amanhã.
Acordarei amanhã.
Viverei amanhã.
Amanhã.
Um brinde a esse amanhã que nunca chega..."

Confirmadíssimo!

(Infelizmente...)

Ah... Perfeição é tão legal... Parabéns!!! ;)

Anônimo disse...

Comentários... deixa eu ver, comentários!

Genial!
Me sinto num caleidoscópio... em cada pedacinho de linha você gira e as mesmas pedras formam um outro desenho que afinal, tem a mesma alma do anterior. Tudo se encaixa.

"Muitas vidas em uma só (...) quanto mais me tiram ela, mais dela brota em mim"
A proxima conversa não será na terça, mas sim na quarta.
Mas amanhã a gente fala mais!

E está prometido. Quarta feira tem mais!

Um beijão Mari!