26 de fev. de 2010

Pensamento filosófico da semana

ou

Simulacro, simulações e similares

"O suquinho Ades é a maior prova de que a sociedade atual está mergulhada profundamente num simulacro de realidade."
(Flávio Vinícius)

Pensem sobre isso...

19 de fev. de 2010

Ensaio IV

Ensaio
Ensaio II
Ensaio III
Ensaio IV

Ensaiara seu melhor sorriso por quase meia hora na frente do espelho. Tinha que parecer feliz pelos seus melhores amigos.

Até que acostumara-se a ideia de vê-los juntos. No início, de fato, foi muito difícil. Amava-o. Ou ao menos achava que o amava. Mas o amor deles era tão perfeito e bonito, que encontrara paz, após alguns meses, dizendo para si mesma que não o amava tanto quanto ela. Pareciam um daqueles raros casais que começavam a namorar na adolescência e envelhecem juntos.

Considerava-se quase adulta por conseguir pensar assim.

Seu pai, que também era sua mãe e gostava de rimas, lhe aconselhava: ''Sofia, acalma tua alma, o amor é nesse leva e trás. Ele sabe o que faz. Sei que vais descobrir, mais cedo ou mais tarde, o teu rapaz.''

Mas ela permanecia inquieta. Talvez por não saber o quão mais cedo ou tarde ele viria. Talvez fosse o retumbante vazio que carregava consigo para todos os lados.

Na verdade, achava ser o amor de seus melhores amigos o único verdadeiro que veria na vida real, fora dos filmes e dos textos literários. Todos os outros casais lhe pareciam vazios.

Meses atrás, naquele último carnaval, sua conclusão fora reforçada. Saia às ruas, e todos desejavam os prazeres de sua carne, afinal, era a festa da carne. Cedia aleatoriamente. Mas a cada beijo que permitia lhe roubarem, parecia perder mais um pequeno pedaço de sua alma. A cada vez sentia-se mais sozinha, mais indivíduo, e o vazio crescia dentro dela.

Parecia que nunca mais amaria alguém.

Era nesse momento que se considerava ainda adolescente, ou melhor, criança. Seriam todos os adultos assim, vazios?

4 de fev. de 2010

Sauna popular

Sauna Popular: R$ 2,80
Alguém achou mesmo que ia dar certo?


[Foto tirada do meu celular em 3/2/2010, às 21:10, na estação Estácio]

Depois do piscinão de Ramos, da farmácia popular, do restaurante popular, o governo do Estado do Rio de Janeiro (somando cagadas), em parceria com a Metro Rio, lança a nova sensação do verão carioca: a sauna popular. O novo serviço, inaugurado com a presença da candidata Dilma está em funcionamento desde 23/12 do ano passado, e compete com o sistema de aquecimento central da cidade como hot point para turistas.

Nem com muito bom humor para aguentar.

Venho sofrendo todos os dias com os inconvenientes do novo sistema do metrô, talvez não tanto quando as pessoas que usam diariamente a linha dois. Saber que o novo sistema traria o caos é uma matemática de 4ª série (ou melhor, do 5º ano).

Para os não cariocas (é que nós cariocas temos a mania de pensar que somos o centro do mundo... bem... de fato somos, mas isso é outra história), devo explicar o que se passa. No Rio tem duas linhas de metro: a linha um liga a zona sul (área rica, copacabana) ao centro; e a linha 2 liga a zona norte (parte da área pobre) ao centro. Antigamente, as linhas se conectavam na estação do Estácio, que apesar de ser considerado um bairro da região centro, é relativamente longe das áreas realmente importantes. As pessoas (pobres) da linha dois tinham que trocar para a linha 1 nesta estação.

Agora não mais! Olha que fantástico: com as obras, a linha dois entra direto na linha um, sem ter que trocar de trem. Qual a consequencia disso? Alternam-se os trens, ora passa o da linha um, ora passa o da linha dois.

Isso não vai aumentar o intervalo entre os três? Óbvio ululante! Para fazer essa gambiarra de uma linha entrar na outra (que até existe em metrôs de países civilizados, como o de Paris), o projeto era reduzir o intervalo de 4 min para 2,5 min.

Mas pera lá... se na parte do centro vai ter trem a cada 2,5 min, nas partes das linhas 1 e 2 que não estão conectadas, o intervalo entre os três será de 5 min. Bingo! Pensa só: a linha dois já era entupida com trens a cada quatro minutos, agora que passa um trem a cada 5, tem gente saindo pelo ladrão.

Se fosse só isso, ok. Mas o prometido não tem funcionado; o intervalo entre cada composição é bem maior do que o planejado, porque eles não sabem operar isso de trens vindo de lugares diferentes entrarem na mesma linha.

Com todos os problemas causados pela novíssima e burra integração direta entre as linhas, na área do centro, a Metro Rio esqueceu-se de manter seus trens funcionando decentemente. Resultado: o ar condicionado volta e meia está com defeito. E para fazer estas obras estapafúrdias, o governo do estado ainda concedeu mais 20 anos para a empresa gerir o metrô. Ou melhor, criou o serviço de sauna popular, para fechar com chave de ouro o governo Cabral.