29 de nov. de 2009

Conteúdo e Forma

Conteúdo e Forma

Ando em busca de uma definição de arte. Mais que uma definição, na verdade necessito (é uma questão particular) de um conceito.

Estive olhando aqui no blog, e vários textos tangenciam o assunto. Caso se interesse, eu poderia mencionar, numa listagem não exaustiva "Banalidades e Onirismo", "Primogênitos Desgraçados", "Poesia é Código", "Desde setembro" e "Arte!?".

Foi uma desenhista indústrial que falou, bem en passant: "o conteúdo é indissociável da forma".
Bingo. Isto foi mais de dois meses atrás, e a frase não saiu da minha cabeça.
[Nota: eu escrevo textos para tentar me livrar dos assuntos]

O meu conceito de arte envolve, portanto, forma e conteúdo. Eu consigo imaginar forma sem conteúdo; aliás, é muito fácil: estudos de virtuosidade para piano, filmes do Quentin Tarantino.

Mas o contrário. O contrário é indissociável. Não existe artista que prescinda da técnica, de toda a técnica. Se houvesse uma forma de transformar sonhos em arte, essa forma já seria a técnica. Não foi por acidente que eu disse "se houvesse uma forma". Infelizmente, para fazer arte, é preciso dominar algum intermediário, algum caminho que permita que o tamanho do seu sonho seja transmitido aos outros.

Na arte, para mim, o fundamental é o conteúdo. Alguém que desenvolve somente a forma não é artista. Talvez artesão. Talvez desenvolva uma técnica que será usada por um artista. Mas quem desenvolve só a técnica não faz arte.

Para além do artista, há o artista genial: aquele que revoluciona a técnica fazendo arte.

Mas falta alguma coisa. Essa alguma coisa é a mesma que me falta para o conceito de amor. Amor significa carinho, tesão, companheirismo, amizade e... algo mais. A autora do blog palavrório [só procurar nos diretores recomendados ali à esquerda] define isso como o intexterível, o que não dá para fiar em palavras.

É uma conclusão romântica, eu sei. E metafísica. Mas veja, há uma diferença crucial: não é possível se atingir o cerne do mistério sem dominar a razão, a forma, a técnica. Da mesma forma que o amor não é possível sem amizade, tesão, companherismo, carinho. Arte e Amor são conceitos muito próximos, pois comungam do intexterível.

P.S.: Uma questão de forma. Já está muito tarde e estou com preguiça de por os links bonitinhos para os textos citados; farei-o em outra oportunidade.

21 de nov. de 2009

Banalidades e Onirismo

Às vezes acho que a vida passa de pressa demais e escrevemos muito pouco. Não, não é que eu queira uma possível eternalização através da arte de escrever. Que diferença faz se os meus poemas vão ser lidos após a minha morte? (Personagem de Woody Allen)

Em suma maioria, apenas escrevemos o que outros nos ditam ou nos fazem copiar, que geralmente é cópia de um terceiro. A criatividade fica jogada ao canto, feito cesta de lixo numa sala quadrada estudantil.

Sinto a necessidade de idéias novas. Acho que todos sentem, mas nem todos falam ou tentam tê-las. Escrever algo diferente é uma tentativa. Muitas são frustradas e não nos levam a lugar nenhum, mas, pelo menos, serve para nos conhecermos mais.

Como diria um personagem de Woody Allen, sinto todos os anseios e desejos de um artista, mas infelizmente não tenho o menor talento para artes. Resta-me aceitar? Não, não é essa a minha intenção. O meu desejo real é me libertar de tudo que me oprime, inclusive das formas de expressões limitantes atuais. Se não sei escrever, desenhar, pintar ou fazer sei lá o que! Eu invento uma nova forma de expressão.

Ultimamente eu sonho em criar um tipo de arte livre que não seja necessário ter nenhuma habilidade técnica. Não sei ao certo como chegar a isso, mas eu gostaria que fosse tudo muito colorido, se eu pudesse usar luz, quem sabe? Seria interessante expressar-se durante o sono, se fosse possível canalizar os pensamentos que temos e formar uma obra de arte, mesmo que ela seja apenas de luz ou da matéria etérea a qual é feita os pensamentos.

Sim! Espero o dia em que tenhamos uma grande arte, onde a qualidade de nossas obras sejam medidas pelo tamanho de nossos sonhos...

16 de nov. de 2009

Primogênitos desgraçados

[de volta ao planeta terra]

Primogênitos Desgraçados: a glorificação do conjunto vazio

Assisti, cerca de um mês atrás, pela segunda vez na vida um filme de Quentin Tarantino. O primeiro foi Pulp Fiction, um filme até divertido, mas longe da genialidade que a ele é atribuida. A grande inovação, a inversão do roteiro, qualquer pessoa que tenha lido/visto quase qualquer história baseada no Nelson Rodrigues, por exemplo, já está mais do que acostumado.

Não vi Kill Bill, e depois de Bastardos Inglórios ficou definido que não verei.

Foi um dos piores filmes que já vi no cinema nos últimos tempos: os personagens não têm nenhuma profundidade psicológica, as atuações são caricatas, o roteiro é raso raso raso. Um exemplo, porque o Cel. não matou a menina no cap. 1? É só para ter o filme? A história é cheia de pontos sem nó como esse... não serve nem como ação/suspense clássico (tipo "Os Infliltrados")

O que salva? Ah! As cenas muitíssimo bem feitas de escalpelação, explosões, tiros.

E não tenho nenhum problema com cenas de crueldade gratuita. Em Laranja Mecânica, por exemplo, o Kubrick é tão ou mais cruel quanto, mas tudo faz sentido dentro da mensagem que o filme quer passar. Tem um propósito. Agora cheguei ao ponto que mais me incomoda. A arte tem que ter um significado desejado, aceito até que seja de contestação do próprio conceito de arte como em Duchamps. O Bastardos Inglórios é a glorificação do conjunto vazio, como se pegar tintas e atirá-las na tela fosse um espasmo de genialidade. Já disse um publicitário sobre pneus que "potência é nada sem controle".

Pode-se tentar salvar o filme falando da questão do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial. Mas quantos filmes já foram feitos sobre os judeus? Nem eles já devem aguentar mais. Quantos filmes já foram feitos sobre "a vingança contra esses caras que mataram minha família enquanto eu estava na minha"? Sem comentários. E ainda tentam me convencer que é um tratado sobre a vingança.

O filme é uma fórmula pronta, numa conjugação de temas batidos. E o que sobra? Violência. Então não fica devendo nada para pornô, é só trocar a violência pelo sexo. Eu chamo de porno-porrada. Se é para não fazer sentido, ou ter roteiro raso, eu particularmente prefiro o segundo estilo.

É uma pena que o Tarantino seja um dos poucos diretores hoje com nome para levar o público para o cinema por si mesmo. Tenho minhas dúvidas se alguém realmente se interessa pelo filme, ou pelo prazer sádico de ver cenas de violência explícita e gratuita em público.

Somos primogênitos desgraçados, refletidos na tela do cinema, aplaudindo nossa própria desgraça. Pois narciso acha belo o que lhe é espelho.

Bom, acho que vou voltar para a Lua.

"De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta"