20 de set. de 2009

Porto Seguro (outros versos)

Porto Seguro (outros versos)

Num mar infausto
Um barco, um claustro
Serei teu mastro
Maestro e solista

Naquela pista a
Duzentos por hora
Vendo teus olhos
e guio, vambora

Por traz de tudo
Eu que conspiro
Teus passos são
o ar que respiro

Sou teu vampiro
E também caubói
Me fantasio
Até de herói

Nem um segundo
Te deixo em paz
Sou vagabundo
E também capataz

E se achar que está sozinha
todos os sons vão lhe lembrar

Sussurros meus ao pé do teu ouvido...

(E quando tudo ficar escuro
Eu posso ser o seu porto seguro)

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Ouça a versão cantada em:
Di-vagar

13 de set. de 2009

Humano, demasiado humano?
ou
Sobre a morte do super-homem

Prólogo:
Para teorias racistas do século XX, XIX, XVIII ou de qualquer tempo, cabe apenas o desprezo. Mas para o homem, o que cabe?

É preciso não se envergonhar e mais uma vez mergulhar fundo no homem para compreender essa nova aparição. O século XXI nos reserva um futuro glorioso (integrado?) em que a ciência vem se tornando o discurso da verdade apesar de sua historicidade e da falta de veracidade na própria história. Um paradoxo? Sim, mas não o pior deles. Dizia Nietzsche que com a História é preciso saber lembrar para se ter o que superar e saber esquecer para não ficar preso eternamente aos mesmos paradigmas. Como pode então a ciência da causa e efeito estar por criar o super-homem?
Sim, as limitações dia a dia se transformam em pó frente o ímpeto da revolução científico-tecnológica, vide as curas para as doenças, a fertilização in vitro, as células-tronco... Por aí vem o super-homem? Então, vem também o segundo paradoxo: O homem está morrendo e evoluindo através de uma ciência que se atém ao passado. Algo mais pós-moderno? Aliás, algo mais absurdo do que algo que ao tentar justificar é já negá-lo?
Porém, o que mais assusta é a pergunta: “Que homem é esse que está morrendo?” Se tomarmos como base a velha definição de que o homem é sempre aquele que falha, aquele que morre, aquele que sofre, o que é por definição imperfeito. Talvez facilite a compreensão, mas há uma segunda pergunta: O homem se tornou completamente humano? Nos elevamos totalmente do nosso estado animalesco anterior? Completamos a sublimação? Ou, a falha na sublimação confirma realmente a nossa essência humana?
Algo mais pós-moderno e irônico do que superar algo que nem fomos capazes de sermos completamente? Como então salvar o super-homem do pós-modernismo?
Tenho a impressão que se o super-homem vier no século XXI, ele será relativizado em pleno vôo, e ao tentar confirmar sua existência provaremos por A+B a sua não-existência. Perceberemos então, que falta o homem. E, assim para o Übermensch restará a involução para o homem. O que seja talvez o que a humanidade tanto necessita.

Prólogo: Que morra o super-homem e nasça o homem antes.

5 de set. de 2009

Sobre o oeste e o leste

Sobre o oeste e o leste

Era uma vez dois amigos de longa data que conversavam no mensageiro instantâneo sobre as impressões dela sobre a Europa. Ela estava morando na França havia cerca de 5 meses, viajara por alguns países europeus, tanto do oeste quanto do leste. Segue um fragmento do que conversaram:

(...)
Ela:
- O pessoal do Leste Europeu é muito mais caloroso do que o povo aqui da França e os do oeste em geral; tanto meninas quanto meninos.
Ele:
- Engraçado isso, não? A imagem do regime socialista é de que as pessoas são frias que o mundo é frio, pois tudo é igual. Mas por outro lado você tem a impressão de que essas pessoas são mais calorosas e simpáticas que os europeus. Será que ao menos os europeus do Oeste são simpáticos entre eles mesmos?
Ela:
- Mais do que com os estrangeiros, com certeza. Mas é o jeito deles mesmo, são frios. Em minha opinião de futura socióloga, essa “calorosidade” dos europeus do Leste se deve justamente, numa contraposição, à frieza do regime socialista.
Ele:
- Talvez não seja exatamente uma contraposição, porque num regime comunista as pessoas talvez sejam mais solidárias; em oposição ao regime capitalista que preza pela competição, por que cada um seja independente do outro.
Ela:
- Não sei se nossas posições são complementares ou opostas. Eu disse que eles são mais calorosos em oposição à frieza e dureza do regime; você disse que eles são calorosos por causa de uma suposta maior solidariedade do regime comunista. Se tomarmos o regime comunista de dois pontos de vista ou ângulos diferentes, nossas visões se complementam; se tomamos o regime comunista globalmente, somos opostos necessariamente.
Ele:
- Eu acho que você tem sim um ponto. Mas deixe-me ir adiante. No comunismo, as formas de expressão são sempre tidas como frias, sem sal nem açúcar. Como se a arte tivesse morrido. Isso se expressa na arquitetura (acabo de ler a descrição muito boa de um amigo que está em Hamburgo e foi visitar Berlim, mostrando os contrastes da cidade dividida - parece que o muro não caiu, ou ainda está por cair). Mas acho que a ausência de alma na arte é uma conseqüência de se viver num regime em que há muito mais solidariedade. É como a arte clichê do casal apaixonado, que normalmente é ruim para quem esta de fora, se comparada com a arte produzida em momentos de tristeza, de separação, de dúvida, que aos olhos externos parece carregada da alma do artista. Como vivemos num mundo competitivo e estamos em alguma medida sempre sozinhos, competindo, canalizamos nossa alma não para a relação com os outros, mas para o papel e para a arte de modo geral. Falo de uma reificação da expressão dos sentimentos. Como não conseguimos nos expressar na relação com os outros, canalizamos tudo para a os objetos, para as coisas.
Ela:
- Concordo com a parte em que você fala sobre o capitalismo, mas acho que para explicá-la você usou uma visão idealizada de como foi o regime comunista, com a qual eu não concordo.
- É verdade. Então acho que chegamos, de alguma maneira, num acordo?
- Jamais!
(risos)

(...)