26 de abr. de 2009

Ensaio II

Ensaio II

Ensaiara aquela conversa madrugadas a fio.
Em cada mínimo detalhe.

Encontrar-se-iam por acaso na festa de um amigo em comum. Ficariam constrangidos. Começaria algum assunto bem leve, algo como a recente onda de calor; emendaria sobre praia, e logo em seguida sobre férias de verão. Quem sabe então falariam sobre viagens, como as que costumava fazer para região dos Lagos. Falariam sobre as brincadeiras de infância, sobre o pôr-do-sol, aquele ventinho gostoso de maresia, sobre noites de lua e céu estrelado. Estrelas cadentes! Pediria que ela fechasse os olhos e fizesse um pedido. Quando os olhos dela se abrissem de novo, encontrariam os seus, sorridentes.

(...)

A festa mal começara e os ânimos logo se acirraram. Faíscas saiam a todo o momento. Levara conversa até a Região dos Lagos, quando a pancadaria começou. Protegeu-a o melhor que pode para longe da confusão.

Decidiu por bem levá-la ao ponto de ônibus.

Não. Não foi dessa vez.

18 de abr. de 2009

Ensaio

Ensaio

Ensaiara aquele beijo diversas vezes nos seus sonhos. Em cada mínimo detalhe.

Os lábios se tocariam por acaso. Ficariam ambos constrangidos. Mas os olhos. Os olhos se encontrariam, sorridentes, e se beijariam também.

Tudo ao mesmo tempo. Imaginara até a forma com que os braços dele a envolveriam. O braço esquerdo na sua cintura, a mão aberta em suas costas; o outro braço um pouco acima, a ponta dos dedos afagando-lhe os cabelos. O seu abraço lhe envolveria por completo. Aqueles anos de ballet pareceriam a medida exata para sustentá-la na ponta dos pés.

(...)

O ônibus veio e fez o sinal. Virou para beijar-lhe as bochechas em despedida. Ele fez o mesmo, para o mesmo lado: os lábios prestes a se tocar...

- Opa, desculpe.

Ele virou a cabeça e estalou-lhe as bochechas. Tímida, disse:

- Boa Noite!

Não. Não foi dessa vez.

5 de abr. de 2009

Desde setembro

Desde setembro

Desde setembro
não escrevo algo que preste
A sensação já é algo de que não me lembro
(Talvez fosse dia onze)

Acho que foi em junho
Meu punho começou a ceder.
Foi quando parei de lutar
pelo que não acredito

As palavras não contraiam
mais ao meu comando,
Imaginei se algum dia o tive

Tentei recortar, mas perdi a cola
Tentei valsar, mas meu maestro foi embora

É esse calor que derrete meus neurônios
(e lá vou eu por a culpa nos outros)

Pois é, desde setembro
Parece a política brasileira:
doença intermitente.

A primavera
e logo depois a eleição
Trazem de volta
clichês maravilhosos
Que nunca vivi

Assim o tempo passa
E a vida também
Desbotada em seus versos

Já cansei de escrever tristezas
De sonhar sozinho
Cansei de me esconder
Atrás da palavra “clichê”

Ainda sou o mesmo
O mesmo idealista
Mas que agora tem por ideal
Deixar de lado
essa frescura de inspiração
E fazer acontecer

Junho vem aí!


Vitor Paiva Pimentel, Abril de 2006.