De Petrópolis para o Rio e do Rio para qualquer lugar
Carina de Melo Itaborahy, de 21 anos, mora no Rio de Janeiro há dois anos e meio. Tempo suficiente para desconsiderar a Cidade Maravilhosa como local de trabalho e residência depois que se graduar. Sua permanência é ainda assegurada pela UERJ, onde cursa jornalismo, e pela Fundação Roberto Marinho, onde estagia. Nada que a impeça de planejar seu futuro alhures. Em Florianópolis, por exemplo, onde Carina celebrará o Réveillon a convite de um amigo. Ela pretende averiguar se a paragem é tão “supercalma” quanto o futuro anfitrião descreve.
Esse anelo de verificar a superlativa tranqüilidade do local possui razões de ordem traumática e de habitat natural. Sobretudo traumática. A petropolitana Carina nunca enlanguesceu o vínculo com sua bucólica cidade natal desde que veio para o Rio. O retorno à casa dos pais ocorre, via de regra e se Deus quiser, todo final de semana.
"Desde que eu vim para o Rio, só passei uns quatro finais de semana na cidade. Tenho medo de sair no Rio por causa da violência", relata Carina.
Ela morou por um ano em Botafogo e depois se fixou em Vila Isabel, num condomínio localizado entre o Morro dos Macacos e o da Mangueira. Vez por outra a sinfonia do tiroteio acorda os condôminos pela madrugada.
Mas nem só de barulho vive o estresse. E ao que aflige Carina - cujos sintomas são cabelos brancos, já visíveis entre suas negras madeixas, irritação diária e insônia - não faltam agravantes mais palpáveis.
"Sofri uma tentativa de assalto quando caminhava do Maracanã para Vila isabel. Eu estava distraída, ouvindo meu mp3, quando um sujeito apareceu do meu lado e disse que se eu não desse o aparelho ele iria estourar meus miolos", conta Carina, que ignorou a abordagem e escapou correndo.
O episódio aconteceu quando a estudante estava de férias na faculdade e no trabalho e disposta a passar - arriscar? - três semanas na cidade. Carina perdeu a aposta e o Rio, o que lhe restava de credibilidade. "Depois disso, arrumei minhas coisas correndo e voltei logo para Petrópolis", ela diz.
Para se prevenir do dia-a-dia da cidade, a petropolitana adotou medidas a que estava pouco afeita: caminha olhando para trás, carrega apenas a segunda via dos documentos, protege a mochila quando uma bicicleta se acerca e não envereda por ruas desertas.
Ainda que seguidas à risca, tais precauções pouco significam a um assaltante bem disposto, ou nem tanto. No início de agosto o condomínio onde Carina mora foi invadido por dois ladrões - um homem recém-baleado e uma mulher.
"Era por volta de umas quatro horas da manhã e o casal arrombou os dois portões do condomínio com uma chave de fenda. Os dois portões tinham câmera e alarme que soou, acordando um morador que chamou a polícia. Na delegacia, o ladrão confessou ser fácil entrar naquele local”, relata, incrédula.
A invasão foi a gota d'água para a estudante de jornalismo, que já planejou uma inspeção da qualidade de vida do Sul do Brasil.