28 de jan. de 2009

De Petrópolis para o Rio e do Rio para qualquer lugar

De Petrópolis para o Rio e do Rio para qualquer lugar

Carina de Melo Itaborahy, de 21 anos, mora no Rio de Janeiro há dois anos e meio. Tempo suficiente para desconsiderar a Cidade Maravilhosa como local de trabalho e residência depois que se graduar. Sua permanência é ainda assegurada pela UERJ, onde cursa jornalismo, e pela Fundação Roberto Marinho, onde estagia. Nada que a impeça de planejar seu futuro alhures. Em Florianópolis, por exemplo, onde Carina celebrará o Réveillon a convite de um amigo. Ela pretende averiguar se a paragem é tão “supercalma” quanto o futuro anfitrião descreve.

Esse anelo de verificar a superlativa tranqüilidade do local possui razões de ordem traumática e de habitat natural. Sobretudo traumática. A petropolitana Carina nunca enlanguesceu o vínculo com sua bucólica cidade natal desde que veio para o Rio. O retorno à casa dos pais ocorre, via de regra e se Deus quiser, todo final de semana.

"Desde que eu vim para o Rio, só passei uns quatro finais de semana na cidade. Tenho medo de sair no Rio por causa da violência", relata Carina.

Ela morou por um ano em Botafogo e depois se fixou em Vila Isabel, num condomínio localizado entre o Morro dos Macacos e o da Mangueira. Vez por outra a sinfonia do tiroteio acorda os condôminos pela madrugada.

Mas nem só de barulho vive o estresse. E ao que aflige Carina - cujos sintomas são cabelos brancos, já visíveis entre suas negras madeixas, irritação diária e insônia - não faltam agravantes mais palpáveis.

"Sofri uma tentativa de assalto quando caminhava do Maracanã para Vila isabel. Eu estava distraída, ouvindo meu mp3, quando um sujeito apareceu do meu lado e disse que se eu não desse o aparelho ele iria estourar meus miolos", conta Carina, que ignorou a abordagem e escapou correndo.

O episódio aconteceu quando a estudante estava de férias na faculdade e no trabalho e disposta a passar - arriscar? - três semanas na cidade. Carina perdeu a aposta e o Rio, o que lhe restava de credibilidade. "Depois disso, arrumei minhas coisas correndo e voltei logo para Petrópolis", ela diz.

Para se prevenir do dia-a-dia da cidade, a petropolitana adotou medidas a que estava pouco afeita: caminha olhando para trás, carrega apenas a segunda via dos documentos, protege a mochila quando uma bicicleta se acerca e não envereda por ruas desertas.

Ainda que seguidas à risca, tais precauções pouco significam a um assaltante bem disposto, ou nem tanto. No início de agosto o condomínio onde Carina mora foi invadido por dois ladrões - um homem recém-baleado e uma mulher.

"Era por volta de umas quatro horas da manhã e o casal arrombou os dois portões do condomínio com uma chave de fenda. Os dois portões tinham câmera e alarme que soou, acordando um morador que chamou a polícia. Na delegacia, o ladrão confessou ser fácil entrar naquele local”, relata, incrédula.
A invasão foi a gota d'água para a estudante de jornalismo, que já planejou uma inspeção da qualidade de vida do Sul do Brasil.

26 de jan. de 2009

La vem eles

La vem eles

"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite."¹
"A verdade é uma coisa bela e terrível, e portanto deve ser tratada com grande cautela"²

- Deu errado de novo! Lá vêm eles!
- Corre!

(...)

- Você e seus planos mirabolantes...
- Você e sua boca!!
- Eu não tenho culpa, estava no roteiro...
- É, eu sei, desculpa.
Espera ai, desculpa nada! Isso aqui não é uma peça de teatro, é a vida real!!! Não tem roteiro droga nenhuma!
- O roteiro das nossas vidas é o destino...
- Sei! Uma forma brilhante de se livrar das suas próprias culpas.
- Mas assim você me ofende! Não é você mesmo que prega as liberdades? Inclua então a religiosa e de pensamento. Desculpe-me se isso lhe soa como se eu estivesse tentando fugir às minhas responsabilidades. Eu realmente acredito no destino. E você também deveria, pois Ele governa nossas vidas: a sua também!
- Ai meu bom deus, daí-me paciência.
- Não tome o nome de Deus em vão. Ao menos seja coerente com as suas próprias descrenças! Se continuar assim, Ele não nos absolverá e não conseguiremos escapar dessa enrascada... que, aliás, você engendrou!
- Tomara! Mas agora cale a boca porque eles ainda estão na nossa cola...

(...)

- Desde o inicio eu achei que esse seu plano mirabolante não daria certo...
- O que? Então porque aceitou para inicio de conversa? Não é você quem diz que devemos ter fé? Se nem você acredita, não tinha como dar certo mesmo.
- Ora... que pergunta idiota, eu aceitei porque tentar é nosso desti
- (cortando) Vê se cala essa boca e continua correndo!

(...)

- Acho que conseguimos! Ao menos por enquanto...
- Eu também acho. Eles voltarão?
- Creio que sim, mas quando for, estaremos melhor preparados!
- Não sei... me parece que depois de todas essas tentativas, ainda não conseguimos sair da estaca zero... bom! Sobrevivemos mais uma vez. É o que importa!
- Verdade. Mas até quando?
- Só Deus sabe...
- Pois é... só deus sabe.

E as portas da verdade eterna se fecham mais uma vez às costas de nossos heróis.




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1 - Um longo trajeto fez essa citação chegar até aqui.
Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Doors_of_Perception
"[...] uma das razões porque as portas da percepção normalmente ficam semi-cerradas seria para a própria proteção do indivíduo, que de outra forma se distrairia com a enxurrada de estímulos desnecessários para a sobrevivência."

2 - ROWLING, J.K. "Harry Potter e a Pedra Filosofal". Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

11 de jan. de 2009

No começo

Era a lua
O reflexo do sol
Era a manhã
Um raio de luz
Era o certo
O contrário de errado
Era a vida
Um jogo de dados
Era o vento
A borracha do tempo
Era a morte
Um instante de sorte
Era o espaço
Um ser lúdico
E era uma vez...
Que fora para sempre.