16 de nov. de 2008

Recorte e Cole

Recorte e cole

Vivo no infinito
O momento não importa
Que eu permita abrir a porta
Para me deixar entrar.

A vida se reparte em crimes
- Quantos ainda não cometi?
Perdido nesse jogo de luzes
Ah, como eu queria estar...

Os erros se repetem
Não me amole:
Recorte e cole

Leio, eu penso, me falam, repito
O mundo é e sempre foi o mesmo
Será que ele não evolui?
E será que isso me inclui?

Penso, logo existo e
Logo desisto de tentar entender
O motivo de tamanha estupidez:
- Tenho mesmo que matar para não morrer?

Os versos se repetem
Não me incomodo
Apenas recorto e colo

Eu estava à toa na vida
Quando o meu amor me chamou
Pra dizer que não há saída
E depois de chorar se calou

Eu disse a ela “recorte e cole,
Tudo vai ficar bem:
se os erros se repetem quem
acerta deve ser imitado também"

Os versos se repetem
Não me amole:
Recorte e cole!

Os erros se repetem
Não me incomodo
Apenas recorto e colo

A grande dança não perde o bumbo
O show da vida segue seu rumo
A roda viva nos carrega a todos
E alguns espertos se passam por tolos.



Vitor Paiva Pimentel – “Poesia!?” – 10/2005


Comentários pessoais:
Não sei porque nunca postei esse poema. Ele é um dos que mais me orgulho em ter escrito. Hoje ele me dá um certo tom de nostalgia, além de me fazer perceber o quanto eu não mudei. Foi uma tentativa de fazer um poema dadaísta, conforme prescreve Tristan Tzara. Recomendo a leitura:

http://antologiadoesquecimento.blogspot.com/2005/06/para-fazer-um-poema-dadasta.html

Ganha um chocolate (é sério, pode cobrar) quem acertar todas as citações! (dica: a maioria são citações relativamente pop. Apenas uma eu considero dificíl. E há uma em que eu cito a mim mesmo, então não conta)

3 de nov. de 2008

Demorei a escrever este texto porque fiquei indeciso em relação ao tema. Pensei por semanas, mudei de idéia tantas vezes, mas finalmente chegou a minha mais nova postagem. Foram idéias das mais variadas, mas finalmente tomei uma decisão. Quanto ao sucesso dessa brincadeira, estou longe de ter alguma certeza.

Em 1992, tive meu primeiro contato com o futebol, na final do Campeonato Brasileiro, entre Flamengo e Botafogo. Não gostei do primeiro por causa de sua torcida e do segundo por intuição infantil. O título rubro-negro me fez associar o clube de General Severiano a algo depressivo. Foi uma sensação tão forte que não foi desfeita até hoje. Resumo da ópera: acabou o campeonato e eu não era flamenguista nem botafoguense. Um certo tempo depois descobri o time do vovô. Aquela camisa com um cinto de segurança até que não me despertou antipatia. Vi o time ganhar alguns campeonatos, mas não me envolvi afetivamente. O Vasco não me cativou e ponto final. Até que em 1994 eu reencontrei o Botafogo. Tinha até uma leve simpatia, assisti a uma partida e então firmou de vez a ligação do alvinegro com a tristeza. Foi uma derrota humilhante. Me deu pena ver a Estrela Solitária apanhar daquele jeito. Tive um sentimento bem estranho. Misturava piedade por um clube cujo fracasso era recorrente, e encanto por um outro que eu não conhecia e me impressionou de cara. O manto tricolor tinha algo a mais, muito além dos 7 gols sobre o rival abatido. Depois desses dois anos eu me decidi: "Pai, eu sou Fluminense!". Enfim, a dúvida morreu, dando lugar a uma história de amor da qual não me arrependo nem um pouco.

Morreu nada. A maldita da dúvida só se transformou. Ainda falando em amor, na vida de um adolescente, às vezes aparece aquela menina simplezinha, meio acanhada, que vive dando sinais discretos, e que com o tempo começa a despertar algum interesse. Nasce a atração, mas que não é logo acompanhada de uma ação. Se o moleque é tímido, pensa dez vezes antes de agir, com medo do fracasso. Por sua vez, se for mais atirado e confiante, fica no dilema: chega na menininha boazinha ou chega na boazuda, aquela gostosa que o colégio inteiro sonha em dar uns pegas? O primeiro caso normalmente acaba mal sucedido: o menino fica com vergonha e perde a oportunidade, ou fica nervoso, chega frouxo e falha. O segundo também tende à frustração: provavelmente o garanhão chega junto da gostosona, que marrenta, dá um toco sem dó. Fica também sem a menininha boazinha, que se encanta por um terceiro garoto, esperto e certeiro. A hesitação provocou uma demora. Fatal. Falo com conhecimento de causa pois já vivi algumas situações do tipo.

A dúvida não é exclusiva das crianças e adolescentes. Na fase adulta ela é igualmente cruel, pois o ser humano é indeciso por natureza. Quando parece que temos as soluções de todas as questões, novas questões aparecem. Não tem jeito mesmo. Na maturidade, tanto homem quanto mulher, ficam com a sensibilidade à flor da pele, em geral transbordando insatisfação. Enquanto é solteiro, quer casar. Quando casa, quer morrer. A mulher adora reclamar do marido. Vive dizendo que ele é devagar quase parando, que quase não comparece mais, mas eis que quando ele comparece...:"Ai amor, hoje eu tô com uma dor de cabeça... Vamos dormir né...". Acho que vocês estão de prova que não é na maturidade que se descobre o que cada um quer pra si mesmo.

Tem aqueles momentos mais comuns, como o de entrada no vagão do metrô, quando é preciso decidir em uma fração de segundo se é melhor sentar apoiado na janela, de costas pro movimento da composição, ou se é preferível ficar no corredor, sem apoio, mas de frente, no sentido do deslocamento. Experimente ficar escolhendo muito pra ver o que acontece. Pode ter certeza que aparecerão dois desesperados, e na base do tapa ocuparão os dois lugares, te deixando de pé, cansado. É tão comum quanto ficar na dúvida entre o sorvete de morango ou de chocolate. Quando vem a decisão..."Amigo, vou ficar te devendo essa, o de morango acabou de acabar."

Depois de toda a explanação, concluí que o texto foi inconclusivo. Somos seres dominados pela incerteza, pela indecisão, aflitos pela descoberta, que nunca vem. Principalmente desejamos saber sobre nossa origem. Vivemos em um mar de dúvidas, navegando em uma tensão dialética entre o dogmatismo religioso e o ceticismo científico. Faz parte. Longe de mim, em meio a tantos conflitos colocar a mão no fogo por alguma coisa. Eu não acho nada, quanto a vocês, aí mesmo é que eu não sei.